Resenha de quatro discos de 2006 de Rapture, Mzuri Sana, Romulo Fróes e Alessandra Leão.
Rapture – Pieces of the People we Love
Universal – R$ 35
www.therapturemusic.com
Depois da onda da música eletrônica e do novo rock, a nova moda na Inglaterra e que vem se espalhando pelo mundo é a mistura das duas coisas. Rock para pista de dança, guitarras com batidas dançantes ou, como já batizaram os tablóides musicais londrinos: new rave. Um dos principais nomes dessa turma é o Rapture, banda que vem de Nova York e que nos seus dois primeiros discos produzia uma música mais calcada no indie-rock. Com mais sucesso na Inglaterra do que terra natal, o grupo mergulhou nos sons dançantes e no tal rock para pistas de dança. Acabou dando novos tons, timbres e cores a seu som. Em “Pieces of the People we Love”, terceiro disco da carreira, convocaram produtores mais ligados ao rap e a música eletrônica.
E muito dessa nova sonoridade na música do Rapture deve-se a eles: Paul Epworth, produtor de origem no rap, que tem também crédito no trabalho de boa parte dos grupos da chamada new rave. Pela mão dele já passaram quase todas as novas bandas que tem feito a cabeça das pistas de danças roqueiras, como Bloc Party, The Rakes, Futuheads, Maxïmo Park, White Rose Movement e Death From Above 1979, entre outros. Epworth trabalhou em parceria com Ewan Pearson (que tem um trabalho focado em grupos de música eletrônica), tendo ainda Danger Mouse (a metade do grupo Gnarls Barkley) produzindo duas faixas. Eles contribuiram para o The Rapture realizar um dos discos mais divertidos e recheados de hits do ano, com a banda carregando ma mão em diversão e energia à base dessa mistura entre guitarra, batidas eletrônicas e groove. Hits certeiros como “Don Gon Do It”, “Whoo! Alright Yeah.. Uh Huh”caem como uma luva para as pistas de dança mais modernas e menos preconceituosas. A velha história da música pop e seus ciclos. O rock está definitivamente de volta às pistas de dança.
Mzuri Sana – Ópera Oblíqua
Trama – R$ 23,30
www.mzurisana.com
O hip hop brasileiro já evoluiu muito no campo das letras e na importância de seu discurso na sociedade. Porém falta ainda uma produção mais rica, ousada e criativa. O grupo paulista Mzuri Sana, formado pelos rappers Screto, Suissac e ParteUm, tenta, nesse segundo disco, “Ópera Oblíqua“, e acerta mais nas rimas e no conteúdo dos discursos. Assim mesmo, consegue criar bons climas quando se utiliza de instrumentos, como nas climáticas ”Slick, Boy!“ e ”Improvise“. Mas o trio mostra também estar sintonizado com o rap mais criativo, que letras inteligentes combinando com produção caprichada, é o caso das músicas ”Definição“, ”Era uma Vez Três..“, ”Terapia“, ”O que é, O que é“ que valem o disco e mostram bons rumos que o grupo pode dar ao rap nacional.
Romulo Fróes – Cão
YB Music – R$ 23,90
Não dá mais para negar que existe uma nova geração fazendo música brasileira de alto nível. Entre os vários nomes que têm surgido, um dos que vem se destacando é o paulista Romulo Fróes. Em seu segundo disco ele mostra um samba elegante, sem soar arrogante, sincero, sem parecer pesquisa de universitário e contemporâneo sem soar modernoso. Com referências aos bambas do gênero, à Tropicália e com influências de música pop, Fróes produz um dos bons discos do ano, mesclando belas composições com mestres como Batatinha e Nelson Cavaquinho. Em parceria com Clima e Nuno Ramos, revela um trabalho autoral de qualidade, que parece circular nos dias de hoje apenas no universo independente. Quem foi mesmo que disse que o samba já era?
Alessandra Leão – Brinquedo de Tambor
Independente – R$ 15,00
Com uma voz mansa, segura e deliciosa, a cantora Alessandra Leão, mostra em seu disco de estréia como valorizar a cultura popular sem apelar para intelectualismos. Fundadora do grupo Comadre Florzinha, ela prova também que é de Pernambuco que sai os melhores frutos desse universo. Brinquedo de Tambor é uma grande brincadeira de ritmos com clima de festa e espontaneidade. Em suas 12 faixas revela um passeio pelos sons do interior nordestino, com samba de roda e coco dando o tom. Destaque para a presença forte da percussão, com dois tambores ilús, utilizados nas casas de Xangô (uma espécia de candomblé pernambucano), pandeiro, caxixis, mesclados com guitarra e violões típicos, um daqueles típicos de repentistas e outro de sambistas.