Discos – Maglore, Ida Maria, Dead Lover's Twisted Hearts e The Drums

Continuando os comentários sobre discos baianos, brasileiros e baianos. Tirando um atraso e tentando se comprometer com todos os lançamentos de artistas da Bahia no ano. Começamos 2011 com os discos de estreia de três bandas, Maglore, Dead Lover’s Twisted Hearts e The Drums, além do segundo disco da cantora Ida Maria.

Maglore – Veroz
Existem bandas sensacionais, que mudam as coisas ao seu redor, que fazem pequenas ou grandes revoluções, que até influenciam uma geração. Há também aquelas bandas que apenas apresentam uma coleção de composições bem cuidadas, um elenco de canções redondas e precisas. E isso de forma alguma é um demérito. Assim como não é toda hora que surgem artistas com inovações profundas, não é qualquer um que tem a capacidade de formular canções pop bem feitas sem soar um produto pré-fabricado e calculado para agradar dono de gravadora. A banda baiana Maglore é aquele tipo de banda que se não inova nada, mas faz bem o que se propõe a fazer, pelo menos em boa parte das faixas de seu CD de estreia, “Veroz”. O disco reúne 13 músicas com proposta assumidamente pop e pegada roqueira. Músicas simples, sem complicações, bonitas, fáceis de entender, aprender e cantar junto e, assim mesmo, com atenção na produção, a cargo de Jorge Solovera, com arranjos e timbres bem azeitados, e mantendo uma preocupação em não ser superficial e soar bem. É música para tocar nas rádios, sem constranger e sem afastar o público médio. Algo por si só já relevante, ainda mais visto como anda o mainstream brasileiro.

Esse mérito em compor canções pop simples e bonitas a banda parece ter aprendido bem quando fazia covers dos Beatles, afinal foram esses tipos de canções que catapultaram os ingleses ao sucesso mundial, não a revolução sonora que fizeram depois. Evidente que a distância com a banda inglesa é de anos luz, mas o grupo baiano segue a bem linha traçada de criar composições no formato pop adequado. Sem se alongar – das 13 faixas, apenas 3 tem mais de quatro minutos – a Maglore trata de temáticas universais, que dialogam com o ouvinte comum, falando de momentos diversos de relacionamentos, bem como motes mais específicos, como em “Tão Além”, na qual questionam de forma interessante a realidade musical na Bahia. “Veja o som como um outro alguém/ Que esse apartheid musical/ A gente dobra e finge que nunca existiu/… Me disciplinaram tão além/ Que eu esqueci de venerar os carnavais também/ Me trataram com tanto desdém/ Se eu falo estranho mas me entendem então tudo bem”.

Não são em todas as músicas que a Maglore acerta em cheio, mas algumas delas são muito bem finalizadas, com arranjos mais trabalhados e o formato muito mais bem resolvido. É o caso de “Demodé”, que traz um riffzinho bem sacado, seguido de um teclado, resultando numa canção docemente caprichada, com uma das melhores letras do disco: “Quando eu ficar ranzinza/ e não puder mais reverter/ A idade que incomoda/ É um demodê feito pra vender// Vou andar no descompasso/ Dos cinquenta eu não passo/ Não vou ter mais sensatez/ Maldizer vai virar esporte/ Vamos desdenhar da sorte/ Ganhar mais e mais perder// E não vou falar de amor/ De amor/ E não vou guardar rancor nenhum”

Em “Lápis de Carvão” guitarras mais sujas aparecem e mostram uma agressividade que poderia estar presente mais vezes no álbum. É justamente o trabalho das guitarras que chama atenção, remetendo diretamente ao rock feito nos anos 2000, com um diálogo entre riffs e solos que dão um frescor a faixa. Aliadas ao bom refrão e a um Teago soltando a voz, rendem mais uma das boas canções do disco. Outro destaques são “Todos os Amores São Iguais” e “Enquanto Sós”, perfeitas canções grudentas para sair cantando junto. Ao lado de “Lápis de Carvão”, “A Sete Chaves” e “Às Vezes um Clichê”,  já apresentadas no EP “Cores do Vento” que a banda havia lançado em 2009.

Assim como grande parte das novas bandas que temperam seu rock-pop com música brasileira, há momentos que a sombra do Los Hermanos aparece. Como em “Pai Mundo”, uma proposta diferente da banda, com um sambinha, falando de final de tarde, mar… poderia estar no disco “4” dos barbudos. Há momentos não tão inspirados, como “O Mel e o Fel”, “Armadilhas de Papel” e “Despedida”  inofensivas e simplórias demais e que mereciam maior burilamento. “Amaria Sonhos Coloridos” quase chega lá, mas fica no meio do caminho.

Há muito a evoluir. Um trabalho de maior apuro em algumas músicas, que podem ganhar mais vibração e, especialmente, uma maturidade maior, com a conquista de mais personalidade e sonoridade própria. Algo até compreensível de não se encontrar no primeiro disco. Assim mesmo, é o tipo de resultado que faria muito bem às rádios. Vai revolucionar algo? Com esse disco, pelo menos, não. Não há nada de novo ali, apenas um punhado de canções com início, meio e fim, com bons refrões e uma pegada rock bem dosada. Uma banda correta, que não brilha, mas cumpre bem seu papel. Léo Brandão (teclado e guitarras), Nery Leal (baixo) e Igor Andrade (bateria) sustentam bem as canções para Teago Oliveira, que se revela um compositor e vocalista bastante talentoso e mostra que tem um grande potencial. Em “Veroz”, a Maglore se mostra ser como uma banda com grandes possibilidades de evoluir e até almejar uma conquista comercial ampla, algo louvável, diante do medo do sucesso do cenário independente. Se você é do tipo que procura algo inovador, não vai encontrar isso na Maglore. Mas, se procura boas canções para embalar sua rotina, para ouvir de manhã e respirar mais leve durante o dia, pode apostar suas fichas.

Download: Veroz (2011)
Gravadora: Independente
Cotação: avalia3

Dead Lovers Twisted Heart – DLTH
Sabe aqueles discos que te pegam e arrebatam tal qual aquela(e) garota(o) que você saia, mas nem apostava muito e de repente está gamado e descobre ser uma pessoa sensacional? É mais ou menos assim que acontece com o disco de estréia da banda mineira Dead Lovers Twisted Heart, DLTH” (as iniciais do nome da banda pra quem não percebeu). O álbum foi lançado em 2010, em formato CD pelo selo Ultra Music, e vinil, pelo Vinyl Land. Com nome retirado de uma música do cantor folk norte-americano Daniel Johnston, a banda foi formada em Belo Horizonte e conta na formação atual com Ivan (voz e guitarra base), Velvs (baixo e piano), Guto (guitarra solo) e Pati (bateria e voz). Depois do lançamento de um EP em 2008, ano passado eles lançaram esse disco cheio. O álbum é daqueles que depois de algumas ouvidas te conquista. Você começa tentando entender melhor o que quer aquela banda mineira cheia de referências que canta em inglês. De repente já está gamado naquela coleção de 12 hits potenciais, que fazem um passeio por vários momentos do rock. Abrindo o disco, tem uma ida ao começo dos anos 80, com um tom de new wave em “Dead Lover”. Acelera em seguida com duas maravilhas de rock moderno, “Backwards” e “All Things (You Gotta Do)”, com boas guitarras, caras de sucesso e ótimas para balançar os esqueletos numa pista de dança, especialmente a segunda. Na sequência, seguem faixas com referências diversas e com influências que passeiam por vários momentos da história do rock, músicas que variam entre beleza, sensualidade e charme. Duas belas baladas, “Isabelle”, que remete a The Doors, e “Pretenders”, que traz à mente o Arcade Fire, com um brado de um coro e um acordeon(?). O bom rock “Folk You” com riff, solos e as guitarra gritando. Tem eletronices em “Shake Your Hips!” que remetem ao eletro-rock e a new wave e faz um convite irrecusável a dançar. Numa pegada semelhante está “Rock Hurts and Hearts Beats”. “Mrs. Magill” é a ponte entre o rock dançante e o folk. A gostosa “Where I Am”, que ao lado da música de abertura traz a baterista Pati nos vocais, com uma letra que diz “Eu quero balançar com você toda a noite/ Eu quero estar com você a noite toda/ Leve-me pela mão”. Tem ainda um passeio pelo folk em “The Devil Inside a Woman” e até um country sem vergonha e dançante, a divertida “Line 5102”. Bem cantado em inglês, com um revezamento nos vocais que ajuda a dar um ar de diversidade ao disco, com produção competente e idéias bacanas, a banda acerta na mosca. Gosta de rock? Ouça e se divirta.

Download: DLTH (201o)
Gravadora: Ultra Music
Cotação: avalia4

Ida Maria – Katla
Depois de lançar um ótimo, e menos falado do que deveria, disco de estréia, a cantora norueguesa Ida Maria teve que encarar o difícil desafio do segundo disco. “Katla” não mantém a veia rocker em alta como no anterior, onde Maria soltava a voz como poucas fazem e muitas deveriam fazer. Nem tem tantos hits e tantas canções candidatas a imortais. O novo disco é mais leve, mais inofensivo e mais introspectivo, mas ainda traz uma grande artista no comando. Capaz de dosar bem a veia pop, com boas canções, e a energia do rock. Começa bem, mas vai caindo no final. Passou na prova do segundo disco, mas com uma nota não muito acima da média.

Gravadora: Universal
Cotação: avalia2

The Drums – The Drums
Se só tivesse lançado a música “Let´s Go Surfing” o quarteto novaiorquino The Drums já teria dado sua contribuição para a música pop. Não, não é nenhum canção que vai mudar a história, é apenas uma daquelas pérolas que você ouve e se apega por horas, com seu refrão pegajoso e um assobio hipniotizante. Daquelas que você quer ficar ouvindo repetidas vezes e fica rezando para o DJ tocar na festa. Mas a banda cometeu não apenas uma boa canção pop, mas um punhado delas no álbum homônimo que lançaram ano passado. Nessa estreia mostram que fazer rock simples, descontraído, divertido e dançante ainda rende. Cheio de boas referências, a banda não surpreende, mas traz bons refrões, melodias assobiáveis e um frescor juvenil que o rock sempre pede.

Gravadora: Island
Cotação: avalia3

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