Esta é apenas a quarta edição do Ruídos do Sertão que acontece em Poções, no interior da Bahia, mas que já atrai olhares de grandes nomes do metal.
Texto e fotos por Fábio Agra
Doze horas de evento ininterruptos, oito bandas e um público cada vez mais fiel. O Festival Ruídos no Sertão, em Poções, tem sido o principal reduto dos metaleiros/rockeiros no interior da Bahia e, talvez, do Nordeste. Sua quarta edição ecoou no último sábado (4).
Por nossas terras baianas, o Ruídos no Sertão se transformou em uma vitrine para bandas de norte a sul, leste a oeste do Brasil, e até de outros países da América Latina que desejam tocar. Durante todo o ano, a produção tem recebido também material autoral dos headbangers hermanos.
Contudo, para esta edição, não houve nenhuma banda estrangeira, ao contrário de 2015 (Metal Singers) e 2016 (Encoffined-Argentina), por uma fatalidade que aconteceu com Steve Grimmett, vocalista do Grim Reaper. Durante um show no Equador, há três semanas, ele precisou ter uma parte da perna amputada devido a uma infecção, e, em consequência, as apresentações do restante da turnê, inclusive a do Ruídos no Sertão, foram canceladas.
O impacto inicial pela falta do Grim Reaper não diminuiu o evento e muito menos o ímpeto da produção e toda a energia que o Ruídos no Sertão vem demonstrando ter. Edu Falaschi (ex-Angra e Almah) e os veteranos da Taurus foram os principais nomes a subir no palco. Social Freak, Human, Erasy, Fúria Louca, Suffocation of Soul e Venereal Sickness completaram o line-up.
Edu Falaschi trouxe o show Metal Classics Tribute, um passeio pelas músicas do Iron Maiden, Van Halen, Metallica e até Europe, com ‘The Final Countdown’. Além de ter a presença de uma das melhores vozes do heavy metal, a banda que o acompanhou era formada por músicos locais (Poções-Vitória da Conquista): Driuzão, na bateria, Daniel Drummond, teclados, Lucas Braga, baixo, Danilo Novais, guitarra, e Tarcísio Correia, da Suffocation of Soul, também na guitarra. Tarcísio teve uma noite emblemática. Tocou com Edu Falaschi, subiu ao palco para uma música com a Taurus e mandou ver com a Suffocation of Soul, mostrando ser um guitarrista virtuoso.
Com o repertório só de clássicos do metal, Edu Falaschi finalizou com Angra. Foi uma apresentação descontraída e envolvente em pleno “interiorzão da Bahia”, como ele se referiu na entrevista logo após o show.
“Já é uma novidade ter um festival de metal no interiorzão da Bahia. Um Festival bem organizado. Que sirva de exemplo para outras cidades ter outros festivais”. Ainda na entrevista, Edu comentou sobre a proposta de seus shows terem músicos locais o acompanhando. “A ideia do Metal Classics é isso, é fazer uma festa. O show é mais descontraído. Não é um show com o mesmo formato do Almah, que tem aquela produção, aquele formato mais corporativo, como era com o Angra. É uma festa que eu falo com a galera, a gente toca uns covers, é bem legal. E o principal é tocar com os músicos locais. Aí acabo conhecendo músicos talentosos e sendo uma vitrine para novos músicos também”.
Edu Falaschi foi a penúltima apresentação da noite. Antes, muito metal rolou solto desde às 4 horas da tarde. A Taurus foi a quarta banda a subir ao palco. Os cariocas não tocavam na Bahia há 28 anos e o retorno foi justamente em um grande evento como o Ruídos no Sertão. Clássicos desses 30 anos de carreira não faltaram, como músicas do disco de estreia “Signo de Taurus”. A banda tocou em cima do DVD, lançado em 2016, que comemora as três décadas de palco.
“A Bahia tem sempre um lugar especial pra gente porque tem uma história. Quando a gente tocou aqui foi em Salvador, junto com o Cólera, que foi um momento especialíssimo na nossa vida, juntando metal com punk. Então era um momento muito especial. Esse tempo todo que a gente não vem aqui gerou uma expectativa muito grande. Quando pintou essa situação de vir pro Ruídos, a gente falou, ‘tem que por pilha nisso’, mesmo com tudo que aconteceu com o Grim Reaper, a gente não queria que tivesse acontecido, mas a gente está muito feliz de estar aqui. A gente ainda está aqui no afã do final do show, respirando ali o palco, muito bacana, clima ótimo”, diz o baterista Sérgio Bezz.
“A gente já tinha ouvido falar bem da organização desse evento. E nós ficamos muito surpresos. Um evento numa cidade relativamente pequena e ter uma repercussão tão grande assim. Um público legal. E eu achei ótima a estrutura, perfeito, super organizado, o show foi maneiro, muita gente, gostamos muito, do caralho”, ressalta o vocalista Otávio Augusto.
O anfitrião da noite com a Suffocation of Soul, Tarcísio Correia falou também sobre sua participação no palco ao lado da Taurus. “Agradecer os caras primeiro pela presença e segundo pela correria. Foi um esforço puto para os caras estarem aqui hoje, tanto da produção quanto dos caras. E é uma satisfação. São 30 anos de carreira e estão aqui em Poções hoje. Fizeram um puta show”.
A Suffocation of Soul foi a sexta banda a se apresentar. Este foi o primeiro show na cidade natal após a volta da turnê pela Europa, que aconteceu entre agosto e setembro de 2016. Com 10 anos de estrada, muita energia e amadurecimento no palco colocam cada vez mais os poçõenses entre as principais bandas nacionais de metal.
“O festival amadureceu nesse meio tempo, a gente também amadureceu e está cada vez melhor. Já existe o público do Ruídos mesmo”, diz o vocalista André. “O amadurecimento cresce e consequentemente a banda começa a se comportar melhor no palco. A gente fica mais à vontade no palco, se entende melhor, toca melhor”, completa o guitarrista Maurício.
A banda que tocou antes do Suffocation of Soul foi a Fúria Louca, do Maranhão. O quinteto fez um show estonteante com várias referências ao metal dos anos 1980, mas com toda pitada autoral. Foi uma das melhores apresentações desta edição do Ruídos no Sertão.
“A gente ficou impressionado, no bom sentido, porque o Festival é muito organizado. A gente já passou por várias cidades, não tocamos em muitos festivais, mas a preparação aqui é incrível. A gente ficou muito feliz e satisfeito de ter vindo para cá e nos deparar com uma estrutura que pra gente é uma mega estrutura, eficiente, eficaz e todo mundo muito atencioso, muito prestativo, todos educados, estamos nos sentindo em casa, um público maravilhoso. Enfim. Uma noite excelente, exemplar”, disse o vocalista da Fúria Louca, Henrique Sugmyama.
Esta quarta edição também teve o grunge do Social Freak, de Vitória da Conquista. Mesmo com repertório autoral, que é a proposta do festival, a Social Freak não abriu mão de covers como Alice in Chains e Rage Against the Machine, esta última por ser uma influência na marca da banda, que traz discussões políticas e sociais em suas músicas.
Tocaram com a mesma energia as duas bandas de Feira de Santana, Human e Erasy, e os mineiros de Caratinga da Venereal Sickness, que encerram a quarta edição do festival com o peso do death/trash metal.
A qualidade musical, o som e a iluminação no palco do evento já não são mais novidades, se tornaram rotineiros. A diferença para as edições de 2015 e 2016 é que o festival voltou a acontecer apenas em um dia, como foi na primeira edição em 2014. Já para o público, as novidades foram a praça de alimentação que ficou maior e com mais opções, até com cerveja artesanal, e O Pardieiro, espaço mais intimista onde rolava um som entre os intervalos das bandas. Em estrutura, o Ruídos no Sertão melhora a cada edição. Um convite a mais para as bandas que desejam se apresentar em um festival que já surgiu grande e para o público cada vez mais fiel.