Mesmo seguindo o isolamento devido ao coronavírus, o BaianaSystem não parou as atividades e anunciou para as próximas semanas o próximo dia 17 de abril uma versão dub do álbum ‘O Futuro não Demora’. Batizado como ‘O Futuro Dub’, ele está sendo produzido sob os cuidados do pernambucano Buguinha Dub. Antes previsto para meados deste ano de 2020, o disco deve ser lançado em abril e vem com sabor de coisa nova. Além do álbum de versões, no dia 30 de abril sai um disco ao vivo com o show realizado em Salvador ao lado de Gilberto Gil. Outras novidades devem surgir em breve fruto do confinamento compulsório.
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Segundo Russo Passapusso, vocalista e um dos compositores da banda, o novo material vai ser diferente do disco lançado em 2019. “Bem diferente é emoção, até porque são as mesmas peças. Porém não é Ganja Man (produtor de ‘O Futuro não Demora’) que vai fazer a leitura, é a interpretação de Buguinha, com novas gravações de instrumentos e materiais de áudio sampler recolhidos hoje. Então o público pode até não reconhecer as músicas de primeira”, explica.
O disco já estava nos planos da banda, mas a suspensão dos shows e o isolamento devido a pandemia de coronavírus acelerou o processo. “A gente queria fazer uma live, mas não podia, o encontro ficou inviabilizado, não dava para juntar a banda. Então decidimos fazer músicas novas, não coisas efêmeras”, diz Russo.
A produção do novo trabalho está sendo realizada à distância, com cada um dos integrantes trabalhando isolado em sua casa e mandando para o produtor Buguinha Dub em Olinda. “Essa privação trouxe um vácuo, um espaço. Saímos de uma relação de curto espaço físico e de tempo, da lógica do trio, de todo mundo junto para entrar nesse viés dub dentro de casa, das salas”, conta Russo.
A impossibilidade de gravar nas condições ideais, mas com cada um em casa usando placas e equipamentos diferentes, obrigaram a banda a se adaptar e a entender as limitações. “Quando a gente ficou preso em casa a gente enlouqueceu, precisávamos botar para fora, entendendo que tem que ser sem tanto preciosismo. A ideia é encapsular o disco mesmo”.
Segundo Russo, o novo trabalho e a produção de Buguinha também vai fechar um elo com Recife, que já vinha de muito tempo, incluindo a parceira com a Nação Zumbi. Referência do dub brasileiro, Buguinha já tinha uma relação com a banda. No primeiro disco do grupo, lançado em 2010, ele foi responsável por remixar as músicas “Frevofoguete” e “Jah Jah Revolta”, além dos singles “Calundu” (com Lazzo Matumbi) e “Pangeia” (com Mateus Aleluia), ambos de 2013. Ele tem uma trajetória que inclui trabalhos com artistas como Nação Zumbi, Racionais MC´s, Black Alien e Flora Matos, sempre dando usando as bases e efeitos característicos do Dub.
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A ligação de Russo com o dub vem desde os tempos de Ministereo Público e sempre esteve presente de alguma forma nos trabalhos do Baiana. Mas por que focar nele no novo trabalho? É como se o momento pedisse. “O dub para mim é um espaço de elevação, de elevar você para aquele espaço sonoro, é mântrico. Essa elevação pode ser utilizada em qualquer ritmo e para mim é sinônimo de aguçamento de sentidos”, explica.
O Dub é um ritmo ou um gênero musical próprio, originário do Reggae na Jamaica e que acabou servindo como fundamento para todos os estilos de música eletrônica moderna no planeta, incluindo o próprio rap. É entendido também como uma técnica de mixagem que dá ênfase ao uso de efeitos, reverbs e delays.
Ainda em produção, o disco está ganhando definições enquanto ganha corpo. O próprio formato e data de lançamento sofrem influência direta do período de confinamento vivido no planeta. “Todos dia a gente se bate e pensa como lançar esse disco logo. A gente queria que fosse em vinil, já que dub é vinil, mas nessa conjuntura não tem como. A gente vai lançar digital e prensar assim que der”.
Outras novidades
O enclausuramento em casa devido ao coronavírus deve render outras novidades do grupo em breve. Com a obrigação de ficar em casa e parar totalmente a agenda de shows, o Baiana entrou em um outro ritmo de produção que deve render muito mais que ‘O Futuro Dub’. Segundo Russo, a banda está fazendo várias músicas novas.
Ele lembra que, com a crise atual, as coisas estão acontecendo em ritmo ainda mais louco, com muita informação circulando. “As coisas mudam toda hora e tudo é efeito em cadeia, cada fala do presidente, a bolsa que cai, a situação das pessoas sem ter como se virar, tudo muda. O Baiana está absorvendo tudo isso, está em cura, incubado e mudando”, diz.
A privação de encontros e ensaios com a banda acabou alterando os hábitos e estimulando outros modos de produzir e criar. “Como estou em casa, pego mais no violão. O processo agora é outro. Não sou eu indo para casa de Seco para apertar os botões, usar as ferramentas, é mais voz e violão, em casa. Está sendo libertador também”, explica. “Na banda está todo mundo explodindo”. Resta aguardar todos os resultados desse isolamento forçado.
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