Pelo segundo ano consecutivo, o projeto Aya Bass se apresenta no Carnaval de Salvador mostrando a força das mulheres negras.
Por Gilvan Reis*
Repetindo o sucesso do verão de 2019, as Aya Bass, projeto musical formado por Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França, fizeram uma única apresentação no carnaval de Salvador 2020. O desfile, que acontece na noite deste último sábado (22), no circuito Dodô (Barra-Ondina), reverenciou a música negra local, nacional e internacional, num caldeirão que coube de Margareth Menezes a Beyoncé, passando por Elza Soares, blocos afros e pelo trabalho autoral desenvolvido por cada uma das três.
Com poucas mudanças e novidades em relação aos shows anteriores, as artistas baianas passearam pela história do carnaval da Bahia reivindicando o protagonismo negro da festa e a necessidade de reconhecer as expressões artísticas que foram sufocadas pela poderosa indústria do Axé Music nas décadas anteriores. O tom político do desfile não poderia ser diferente tendo em vista que o próprio trio Respeita As Mina, nas ruas pelo quarto ano consecutivo, nasceu com o propósito de combater todo e qualquer tipo de violência contra a mulher, especialmente, o assédio nos dias de carnaval e de levantar discussões relevantes para a igualdade.
“Exú não é o demônio. Quem inventou o demônio que lide com ele”, bradava Xênia contra a intolerância religiosa depois de cantar a sua música mais conhecida “Pra que me chamas”. Em outro momento, Larissa repetia sem parar o verso “Respeita as pretas que as preta é barril” num chamado ao empoderamento da mulher negra e do respeito ao corpo feminino. Depois, as três saudaram Margareth cantando alguns de seus maiores sucessos e reforçando sua importância genuína para o carnaval da cidade. Entre uma música e outra, a pipoca delirava com as palavras de protesto enquanto quem assistia do camarote parecia oscilar entre a curiosidade e a falta de empatia mesmo.
Apesar de algumas pequenas falhas no trio que ficou sem som três vezes e do horário do desfile (depois das 23h), o grupo conseguiu segurar o público vibrando até o final do circuito. É que as Aya Bass, idealizada por Larissa Luz, representa esse momento de renovação da música baiana e de retomada do protagonismo negro na produção. Além, é claro, de impulsionar a criatividade e qualidade artística local já que o Axé, em crise há anos, não consegue mais responder aos desejos dessa nova geração que quer e precisar expressar-se.
Para quem acompanhou as três apresentações no ano passado, um único dia de desfile pareceu realmente pouco para o que as três artistas juntas podem oferecer. Agora, é torcer para que o encontro aconteça novamente com algumas inovações e, quem sabe, incorporando até mesmo outras vozes negras que estão emergindo na cidade.
*Gilvan Reis é jornalista