Qual a melhor forma de se dar bem no mercado? Parece introdução de matéria sobre primeiro emprego, mas é a mesma questão que aflige bandas e artistas que apostam em seus trabalhos. Em tempos de incertezas, eles não sabem muito bem que caminhos seguir para furar o bloqueio do mercado. Como deixar de se apresentar apenas para os amigos e crescer? Ninguém nunca teve essa fórmula na mão, atualmente, menos ainda. O caminho é tentar, ter ideias e procurar seu público.

Algumas bandas já perceberam isso e estão buscando atingir o público mais novo, a gurizada que ainda está na escola. Em Salvador, a prática de tocar nos intervalos escolares vem sendo feita há anos pela turma da Axé Music. Simples e certeiro. Abraçar a rapaziada que ainda está definindo seu gosto musical e cortejá-lo. Algumas bandas do rock baiano já se atentaram a isso e também tem experimentado. Bandas como Pessoas Invisíveis, Quarteto de Cinco e Lunata têm se apresentado em colégios particulares como Módulo, Diplomata e ISBA.

“As experiências que tivemos foram positivas. Alguns alunos ficam indiferentes, mas muitos outros curtem, ficam olhando, vidrados. Conseguimos vender CDs, e tocar num lugar novo, diferente. Claro que pra gente, que é uma banda minúscula, que pouca gente conhece ou sabe cantar as músicas, é bem mais difícil, mas é aquela história do trabalho de formiguinha mesmo… vale a pena”, conta Bruno Carvalho, vocalista e guitarrista da banda Pessoas Invisíveis.

Muitas dessas apresentações, na verdade, ainda são realizadas por iniciativa das próprias instituições, mas uma ação conjunta de bandas junto às escolas poderia render um circuito bacana e a formação de um público que pouco tem acesso a shows de bandas como essas. O hábito de ver outros tipos de artistas, a proximidade e a relação com eles é um passo importante para que esse público passe a consumi-los mais. O que não faltam são escolas particulares e públicas que podem servir de palco.

Encontros e parcerias

E esse papel de unir forças é o tipo de papo que muita gente vira a cara, mas que pode dar bons retornos. Algo que a nova geração da música independente (ou como queiram chamar) baiana está sabendo utilizar. Bandas e artistas dialogando mais, trocando informações, se ajudando e promovendo ações conjuntas. Sejam shows, sejam turnês ou parcerias. Bandas como Maglore, Prigulino, Neologia, Suinga, entre outras, já estão se reunindo na prática para trocar experiências, se ajudar e ver como viabilizar melhor suas carreiras na cidade. Elas já realizam reuniões visando essas melhorias e é facilmente perceptível como se ajudam, se promovendo e realizando shows em conjunto.

Tem uma turma mais velha que teve uma idéia brilhante e também vem colhendo bons frutos. A partir de Jarbas Bittencourt e Arnaldo de Almeida surgiu a proposta de juntar novos e veteranos compositores para um encontro de criadores de várias gerações. O nome não poderia ser outro e o Encontro de Compositores passou a ser um dos eventos mais interessantes para se conhecer e admirar o trabalho desses homens e mulheres que fazem as canções da música baiana, mas são mais desconhecidos do que deveriam. Jarbas e Arnaldo convocaram um time de responsa para atuar como titulares: Manuela Rodrigues, Sandra Simões, Ronei Jorge, Dão, Pietro Leal, Thiago Kalu, Carlinhos Cor das Águas e Deco Simões. Eles recebem todo mês no Teatro Vila Velha convidados e um público interessado num clima descontraído e interessante.

Desse projeto já surgiu um outro que (re)começou com novo formato este mês. O De 2 em 2 segue a mesma ideia do Encontro, mas agora, como o nome diz, com dois compositores por apresentação. A proposta é bem parecida: reunir compositores para interpretar suas obras falando sobre aspectos da obra, da carreira, dos motivos pra compor etc. Realizado mensalmente, o projeto começou com Arnaldo e Jarbas, e terá as seguintes duplas nos próximos meses: Dão e Supertom, Carlinhos Cor das Águas e Ronei Jorge, Ray Gouveia e Thiago Kalu, entre outros.

Interior
Algumas das bandas mais novas têm apostado também em levar sua música para outras praças na Bahia. Muitas vezes desprezado, o interior do estado é um campo fértil e carente para artistas se apresentarem, mas é outro local onde há carência de artistas circulando e que o preenchimento disso não só leva opções como também forma um novo público. Algumas cidades já estão mais organizadas, como Feira de Santana, Vitória da Conquista e Camaçari, que realizam eventos periódicos, como shows e festivais.

Em Feira de Santana (107 km de Salvador), quase tudo tem partido do Feira Coletivo Cultural, como o festival Feira Noise, as Noites Baianas e o Folia Feira Noise, uma pré-micareta que acontece dia 16 de abril com as bandas Maglore, Suinga e a local Maryzelia e os “Coisinho”. A Maglore é, por sinal, uma das bandas que tem aproveitado esse circuito de shows e tem viajado bastante para mostrar sua música, seja por capitais e cidades do interior do Nordeste e Sudeste, seja pelo próprio interior baiano. Esse mês, além do show em Feira, a banda toca em Vitória da Conquista, dia 14, e em Itabuna, dia 15.

Vitória da Conquista é outra cidade que se destaca em receber bandas. Também através de um coletivo, o Suiça Baiana, a cidade do sudoeste baiano (518 km de Salvador) já criou uma rotina. Este mês, por exemplo, acontece as Noites Fora do Eixo, com apresentaçãos todas as quintas do mês, sempre com uma banda convidada e uma local. Começa nessa quinta, dia 7, com Pirigulino Babilake e Ramanaia, segue dia 14 com Maglore e Os Barcos, dia 21 com a banda paulista Aeromoças e Tenistas Russas e Contrabanda e encerra dia 28 com Sertanilia e Cinco Contra Um.

Pague quanto puder

Se o Radiohead chamou atenção oferecendo disco novo pelo valor que o fã quisesse pagar, a tendência não se alastrou como se esperava. Alguns artistas mesmo não tendo a popularidade da banda inglesa, porém, seguiram o modelo. Aqui na Bahia, o músico Vandex acaba de disponibilizar seu novo trabalho, Ironia Erotica, nesse formato. Você faz o download no site e paga quanto achar que deve. Mas tem também uma outra iniciativa que inverte um pouco essa estratégia. Algo que já vem sendo feito por vários artistas pelo mundo e que os baianos da banda Automata estão correndo atrás. Ao invés de pagar pelo álbum pronto, a banda está captando recursos para a prensagem do seu segundo disco antecipadamente. Eles estão usando o sistema do site vaquinha para recolher o dinheiro. Até agora conseguiram pouco menos de 7% do que precisam para a prensagem, cerca de R$138 dos R$2 mil necessários, mas a contribuição permanece aberta até 12 de junho. O que colaborarem ganham o CD e os nomes nos créditos do trabalho. A idéia é boa.

Outra boa idéia é chamar (ou deixar que peguem) uma música e façam remix dela. Boa possibilidades da música ser ouvida em outro ambiente, numa pista de dança, numa festa… Uma tendência que na Europa é bastante comum, para artistas dos estilos mais diversos. Por aqui quem topou ter uma música remixada foi a Vivendo do Ócio. A música “Terra Virar Mente” ganhou uma nova versão feita pelo Hanumam, projeto de música eletrônica, de Danilo Cutrim e Vitor Insensee, integrantes da banda Forfun. A música está disponível para download no link www.bit.ly/terremix em troca um Tweet.

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  1. Pow…essa idéia de um circuito escolar é foda!!!Eu sempre quis tocar no intervalo do colégio, não sei se seriamso expulsos depois dos primeiros acordes, mas mesmo assim seria uma experiência foda!!!!

  2. Acho bacana tocar nos colégios.
    Melhor ainda se for em colégio público.
    No colégio público, na minha opinião, a recepção é mais calorosa. Uma parcela maior de jovens irão curtir e divulgar.
    E outra, acho que a união dos alternativos faz toda a diferença.

  3. Porra, demorou pra caralho! Essa bola de as bandas irem se apresentar nas escolas eu cantei HÁ SEIS ANOS, no Rock Loco, depois que eu soube que o Rapazolla tinha se apresentado na escola do meu sobrinho, fato que muito me indignou. Vejam: http://rockloco.blogspot.com/2005/03/rock-n-roll-high-school.html. Isso não é uma ideia nova, nem perto disso. A própria Úteros em Fúria fez isso algumas vezes. Uma é especielmente inesquecível, uma tarde chuvosa qualquer de 1993, quando acompanhei a banda para uma apresentação no horário do recreio no Colégio Águia na Pituba (acho que nem existe mais, né?). Para variar, a garotada despirocou, com direito a mosh e as porra. A mais animada, que se jogou várias vezes do palco improvisado na quadra de basquete era uma menina magricela muito doida. Uma tal de Pitty. Ou seja: tem que tocar nas escolas, sim. É lá que as bandas vão formar público. É lá que o rock tem chance de se perpetuar. Se a gentalha do axé pode fazer, o rock tem que fazer também. War for territories!

  4. Ouch ..e eu cantei isso a Vida inteira. Escola é o melhor local de formação de platéia
    Lú faltou falar mais do Fora do Eixo Bahia, que já tem Cidades conectadas : Salvador, Feira, Conquista, Camaçari, Cachoeira, Cruz das Almas, Itabuna, Ilhéus, itaberada, Baixa Grande e Juazeiro …
    E se essas Cidades já estão mais organizadas é graças a visão do trabalho em rede que vem sendo trabalhada e cada vez mais crescente na Bahia .. e dessas tres cidades que voce citou , duas são pontos Fora do Eixo e Camaçari é ponto parceiro da Rede …
    E também do papel do Quina cultural, como ponto articulador da Bahia e responsável pela gestão do crescimento da Rede no Estado …

    1. Falta falar de muita coisa, Cássia. Não foquei tanto em Camaçari, por exemplo, que é tão ativa quanto Feira e Conquista. Sempre tem mais pra falar. Mas é isso, aponte aqui nos comentários pra o povo conhecer também. Conta ai o que o pessoal dessas outras cidades tem feito.

  5. Lu, em outra oportunidade falarei sim … é que se continuar falando vai rolar aquelas baxarias que esse povo que não trabalha e só faz criticar adora …
    E seu blog não merece
    To fora querido… nun tenho tempo pra isso não.

  6. Primeiro eu gostaria de tirar uma dúvida, o autor desse blog é o que afinal? músico, dj, crítico musical ou topa td por dinheiro? saiba que escrever em blogs é uma grande responsabilidade e que seus comentários induzem comportamentos de muitos leitores, por isso escreva com muita consciência. Fica a dica!, abçs

    1. Ola Carla,
      Sou jornalista e mantenho esse blog há uns sete anos. Tento ser o mais responsável possível. Gostaria que me aontasse qual foi o problema que a fez postar o comentário. Pode ser aberta e direta. Abs

  7. Prezado (a) “Rato”,

    Não sou do meio musical, entretanto, convivo com músicos que, diferentemente de muitos que podem ser vistos por aí, ralam absurdamente para, não só dar certo no meio profissional que escolheram, mas também para incrementar a cena cultural brasileira. Portanto, o que eu irei comentar sobre o seu comentário é inteiramente pertinente.

    Acredito que se você lê este blog, é porque i) é músico (a); ou ii) é interessado no assunto ao ponto de se importar com a circulação e divulgação das bandas.

    Feita esta premissa, eu só posso acreditar no seu comentário acaso você não possua conhecimento sobre o que é o Fora do Eixo ou o Quina Cultural (Cássia, por favor, me corrija se estiver errada).

    O Fora do Eixo nada mais é que a junção de todos os coletivos espalhados pelo Brasil, enquanto que o Quina Cultural é o coletivo que responde por Salvador.

    Através dele você e sua banda podem circular, fazer shows em diversas cidades brasileiras, se fazer escutar e permitir que toda a cena cultural evolua a partir da junção de forças de diversas cabeças em prol de uma só coisa.

    Assim, acaso você seja realmente músico (a) e esteja se voltando contra todo este sistema de circulação de música e divulgação de trabalho, sinto lhe informar, você não terá muitas chances no mercado que supostamente escolheu para si.

    É hora dos próprios músicos encararem a música como um trabalho sério e digno como qualquer outro, sob pena de termos diversos adolescentes tardios sem qualquer chance de viver daquilo que se quer sem se tornar um burocrata.

    Boa sorte para você.

    1. Ah! Poderia não aprovar esse comentário de Miguel, mas fiz questão de deixar. É importante vermos como tem gente consistente que tem muito o que dizer. Isso ai Miguel, obrigado.

  8. vamos passar o fim de semana em paris, amor, com TODAS ESSAS GRANAS que você ganha como ‘topa tudo por dinheiro’ nesse ‘blog de merda’ e naquele ‘radioca de merda’. porque o motivador sempre foi esse, né? *dinheiro*. beijo, meu ricão.

  9. Brust tocava com a The Cent$ no intervalo do Integral…tudo bem que num era ROCK, mas tocava-hehehehe

    Os Gêmeos + bacanas do rock soteropolitano (Rogério & Rodrigo Gagliano) assistiram essas apresentações…e tb já tocaram no CEFET anos atrás com a Charli Chaplin…

    Vou perguntar a bruno sobre isso, gostaria de tocar com os Honkers nas escolas…

  10. Esse lance de tocar em colégios tem realmente q ser mais explorado pelas bandas independentes… um dos meios de resolver aquele velho queixume de falta de público nos eventos. O lance é atuar tbm na formação do público e qto mais distribuido por toda cidade, melhor. Minha finada banda fez muito isso. Tocamos no Colegio Roberto Santos (Cabula), no Ypiranga (2 de julho) e no CEFET, q foi onde 2 dos 4 integrantes cursaram o nivel médio. Nossa ideia era formar um circuito, de inicio, nos colégios do Cabula, tocando nas gincanas que eram tradição nos colegios da região.

  11. Luciano Martins: Realmente vey, colégio público é a bruxa!!!!!Principalmente se for daqueles grandões.

    Chico: Isso mesmo vey, porque assim no meu tempo de colégio eu vivia trocando bandas com os colegas, falando sobre…e passando flyers de shows, hoje em dia mal vejo isso, a galera fica muito nessa de Iutubi e internet e tem muita merda se propagando por conta disso, acho que angariar a galera na escola fará com que no futuro o gosto musical seja melhor apurado (No meu conceito de melhor).

    Carla: “saiba que escrever em blogs é uma grande responsabilidade e que seus comentários induzem comportamentos de muitos leitores, por isso escreva com muita consciência. Fica a dica!, abçs” hauhahuuha caralho, se for assim eu tou fudido hahuahuah só induzo a galera a ouvir lixos e fazer merda huahuauhahuah estaria feliz se todos eles seguissem meus preciosos e escatologicos conselhos lá no blog.

    Luciano: Você poderia ministrar um Workshop sobre como ficar barão com blog, estou vendo que você tá portando e eu vivo me fudendo trabalhando em escritório, quando poderia ficar em casa apenas escrevendo pra blog, estourando a champa e jogando dinheiro pro ar, tipo bling bling.

  12. A tempo …
    Valeu Mariana, e antes que pensem que é combinado ..eu nem sei se te conheço pessoalmente rs
    mas é mais ou menos isso ai mesmo que voce falou.
    E agora o que mais tem é Banda da Bahia tocando lá fora e lançando cds nacionalmente gracas ao trabalho colaborativo e em rede
    Ontem fui a uma palestras do MINC no conselho de Cultura.. e o que eu ouvi da secretaria Marta Porto, foi só elogios ao trabalho do fora do eixo e a diferença que está fazendo no país, America do Sul e américa Central …
    Ainda bem que temos o fora do Eixo Bahia

  13. Oi Luciano, interessante saber destes novos caminhos… Se estivesse por aí, não perderia este encontro de compositores. Valeu pelo texto e pela qualidade das informações!

    Muito obrigado.

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