O público do rock costuma ser bastante conhecedor de bandas e novidades do seu meio e apenas dele. Costuma permanecer num gueto e não valoriza tanto outras sonoridades. Assim é com boa parte dos públicos de cada gênero. Até parte da turma da eletrônica, que deveria ter a mente mais aberta pelas origens diversas do som que ouve, age assim. Fechada. É impressionante também como o público médio ainda trate o rock – gênero que já teve nomes como Roberto Carlos, Cazuza, Legião Urbana e Raul Seixas, por exemplo – com desprezo e coisa de marginal. Assustador que muitos ainda vejam a música eletrônica como algo frio, sem vida, música gay ou apenas para dançar. Respeitando os gostos, é compreensível que não se goste de tudo. Há, no entanto, muito a ser explorado para que, em plena era de disseminação da informação, as pessoas simplesmente aceitem se fechar em guetos. É procurar o que há de bom em cada um dos estilos. Rock, eletrônica, samba, rap, tango, MPB, funk já não cabem isoladamente em gavetas. Se sempre foram marcados por misturas, desde os anos 90 os ritmos e gêneros musicais se mesclam ainda mais, com ajuda de novas ferramentas, convivem e se atualizam. Em tempos que não há um ritmo só no comando, que nada é absoluto, o que vale é abrir a cabeça. Há um novo rock, uma nova MPB e uma nova música, só que ela nem sempre passa na TV, não está no rádio. Precisa ser encontrada e a Internet está aí, oferecendo um pouco de tudo.
Alguns caminhos
Se o ouvinte pode abrir a cabeça para uma diversidade de sons, a produção também está se atentando cada vez mais para essas quebras de fronteiras. Se nomes como Chico Science e Beck, entre vários outros, consagraram isso nos anos 90, atualmente outros dão seguimento. Lembrando que o próprio rock foi fruto de misturas, a bossa-nova idem e muitos outros. O percussionista argentino Ramiro Musotto sabe o que é isso. Ele soube aproveitar ritmos baianos como o samba reggae e o pagode e transformá-los em outra coisa. No novo disco do músico, “Civilização e Barbárie”, ele parte para outros rumos, explorando e dando novos significados a chorinho, sons de berimbau, de tribos indígenas, do sertão e da África. Um outro cara vem se consolidando como o grande nome dos anos 00. James Murphy não é um rock star, mas comanda uma das bandas/ projetos mais interessantes da atualidade, o LCD Soundsystem. O som não é apenas eletrônica nem é para dançar. Às vezes é até as duas coisas. Mas o DJ, cantor, produtor, músico, mostra, como pode reunir canções, agogôs, beats, minimalismo e criatividade num mesmo prato. O excelente recém lançado CD “Sound of Silver” entra desde já na lista dos melhores do ano. O trabalho vem obtendo boas vendagens e ganhou uma interessante versão remixada, “Sounds Like Silver”, feito por uma turma que já mexeu com músicas do Primal Scream e Chemical Brothers. Deixe o preconceito de lado e vá ouvir.