O paulista Curumin lança Japan Pop Show e mostra que mais de uma nova música brasileira, com sonoridade contemporânea.
Música brasileira? Nova? Criativa? Bem feita? Onde? Mais um bom nome prova que gravadoras, rádios e a indústria é que não querem enxergar. O paulista Curumin acaba de lançar o disco Japan Pop Show, que mostra mais que temos tudo isso disponível aqui do lado. Um trabalho autoral, refinado, contemporâneo e de cara um dos favoritos a melhor álbum brasileiro do ano.
Japan Pop Show começa dando pistas que vamos ouvir um disco de DJ Shadow na melhor fase, com uma sonoridade repleta de elementos eletrônicos e a criação de uma ambiência quase etérea, com batidas quebradas e vários efeitos, incluindo vocais. É assim com “Salto no Vácuo com Joelhada”, prosseguindo em menor grau com “Dançando no Escuro”, que conta com participação do redescoberto Marku Ribas. Em “Compacto” ele abre outra janela e volta para o que vem marcando sua carreira, samba-rock (ou sambalanço) de alto nível, cheio de suingue e sem querer soar Jorge Ben, mas não nega a influência. Mesmo clima que volta em “Mistério Stereo”, bela canção que caberia sim num disco de Ben dos anos 70 tranquilamente, com seus violões e letra inspirada. “Esperança” segue um caminho parecido, daquele tipo de música que faz falta na humanidade, com clima alto-astral e palavras que deveriam ser repetidas como mantra “todo mundo quer amor e paz na Terra”.
Curumin é um daqueles caras que não tem vergonha de soar brasileiro nem de absorver influência internacional ao mesmo tempo. Sua presença no exterior começa a ser constante, ao mesmo tempo que entra de vez no circuito de festivais independentes pelo Brasil (Bananada, Calango e Mada), provando que tem um sotaque próprio, que dialoga tanto com o próprio país quanto com o resto do planeta. Em “Kyoto” (que conta com participação de nomes do rap californiano: o duo Blackalicious e o rapper Lateef the Truth Speaker, filho de integrantes do grupo de militância negra Panteras Negras) e “Japan Pop Show” mostra claramente isso, colocando influências de rap e dub, mesclados com sua sonoridade brasileira.
Em “Caixa Preta” convoca B-Negão e Lucas Santtana para um batidão bem produzido e ácido, como deveria ser o tal funk carioca. “Sambito”, com participação do skater Tommy “King of Corn” Guerrero, é quase um samba de gringo, cantado em japonês (referências a suas raízes japonesas recorrentes no disco) e português com groove, guitarras e efeitos. “Fumanchu” fecha com um samba-jazz de responsa, para ninguém duvidar da capacidade de se fazer um grande disco de música brasileira rico e bonito. Mas o que marca a música de Curumin é “Mal Estar Card”, suingaço politizado com direito Cristopher Love soltando as farpas diante da realidade nacional. Além da deliciosa “Magrela Fever”. Curumin é mais um nome que consolida o discurso que vivemos uma nova música brasileira, com sonoridade contemporânea, sem esquecer o que há de bom em nossa música, mas sem querer simplesmente soar como os velhos mestres. Um olho no retrovisor e a cabeça no horizonte.