A última sexta, 18 de novembro, marcou o retorno da banda IFÁ aos palcos depois de 2 anos e 8 meses de seu último show. A ótima apresentação no festival Paisagem Sonora (leia cobertura aqui) mostrou a banda afiada e em sua melhor forma, relembrando como estava fazendo falta aquele encontro de afrobeat, funk, ijexá , dub e reggae. Já com outro show marcado para o dia 3 de dezembro, no Festival Salvador Jazz, a expectativa de músicas inéditas em breve, além de um novo álbum para o primeiro semestre de 2023, a IFÁ volta a ser dos principais nomes em atividade da cena musical baiana.
Com a mesma formação de quando deu a parada em 2020, com Fabricio Mota (baixo), Jorge Dubman (bateria), Alexandre Espinheira (percussão), Juliano Oliveira (teclado), Ênio Nogueira (guitarra) e os sopros com nomes como Mateus Aleluia Filho (trompete), Normando Mendes (trompete) e Gleison Coelho (sax barítono), a banda tem alguns projetos engatilhados.
“A gente está preparando duas faixas que sairão separadamente como singles”, revela Fabricio. O primeiro será um tema instrumental novo, “já transpirando as novas coisas que a gente tem escutado, as novas influências sonoras, que na verdade já fazem parte desse processo nosso de pesquisa da música preta atlântica”, conta.
O outro ainda é guardado em segredo, mas deve ajudar a dar um novo impulso à banda. “Será um feat com um cantor brasileiro. Temos recebido bons convites e propostas, mas ainda não podemos divulgar porque não oficializamos”, diz. “Mas já começamos a produzir faixas com pessoas muito importantes da cena musical brasileira e que são referências para nós”.
Segundo o músico, esses lançamentos vão ser os carros chefes desse processo de retomada, que vai culminar com um álbum novo no primeiro semestre de 2023. “A pré-produção desse disco já está bem avançada. Temos gravado coisas e acho que ano que vem a gente já entra valendo no estúdio pra transformar essas músicas numa versão já pra um EP ou para um disco”, conta.
Com um álbum lançado, Ijexá Funk Afrobeat (2016), além de um EP ao lado da cantora nigeriana Okwei V. Odili, em 2015, a IFÁ tem como último lançamento o single “Manifesto”, de 2018. No período antes da parada, a banda teve mudanças de formação, com as saídas dos dois guitarristas que integravam o grupo, Prince Áddamo e Átila Santana.
Veja trecho do show de retorno da IFÁ no Paisagem Sonora:
Novas sonoridades
Fabrício lembra que a IFÁ que a pausa serviu para cada um dos integrantes tocar seus projetos pessoais. “Todo mundo continua escutando, fazendo referência ao nosso trabalho e nós entendemos que esse era o momento mais oportuno para voltar aos palcos e para colocar a coisa para girar de novo. Está sendo muito bom reencontrar todo mundo e fazer música nova principalmente”, diz. “Temos trabalhado muito em novos temas, criado coisas interessantíssimas e que vamos soltar aos poucos nos shows”.
Quem se acostumou com a mescla de sons afro diaspóricos, como o afrobeat de Fela Kuti com funk, ijexá, dub e reggae, pode esperar novas misturas e sonoridades. Um dos homens à frente da IFÁ, Fabrício sinaliza que a banda vive um momento de reinvenção e de desenho de uma nova estética sonora. “Principalmente essa relação com as máquinas, com os beats e com os samples. Acho que isso teve mais força nos últimos tempos no processo criativo da gente, de tocar com as máquinas, de fazer música a partir de beat e de tentar levar para experiência ao vivo essa coisa mais híbrida com o universo eletrônico”, explica.
Ele ressalta que isso já é muito presente no trabalho autoral de outros integrantes da banda. Como Jorge Dubman, que como beatmaker tem mais de dez discos lançados assinando como Dr. Drummah. Além do próprio Ênio, um experiente produtor musical que também trabalha com esse universo. “Isso tem fluído muito no processo criativo da gente, na maneira de compor pensando com essa fragmentação que as máquinas oferecem de recortar timbre de um lugar e de tocar as máquinas ao vivo. Acho que isso vai ter uma presença razoável no nosso novo processo”.
Assim como o afrobeat, outro aspecto que deve aparecer com força na nova estética da banda tem origem africana. “Cresceu muito a presença das sonoridades dos países da costa ocidental norte do continente africano, principalmente a música do Mali. Isso tem aparecido com uma força muito grande nas composições”, diz o músico. Segundo ele, o processo de retomada também é de se permitir ser invadido por essas influências e criar uma coisa nova a partir disso. “A novidade está na tradição”.