Dia histórico
O Los Hermanos é aquele tipo de banda que todo mundo que gosta quer ter um pouco mais de carinho que o outro, como se fosse uma coisa só sua. Pra mim é inevitável lembrar que conheci a banda ainda quando lançaram demos em K7. Acho as duas demos fabulosas e quase trago a banda pra tocar aqui em 99 no Summerbabe, mas ainda eram desconhecidos demais e não ia dar pra cobrir os gastos. É inevitável falar disso porque quando eu vejo um show como o que rolou sexta passada aqui em Salvador a minha sensação é de satisfação. Assisti o show todo rindo feito um bobo, talvez a mesma sensação que eles sintam, de conseguir realizar algo positivo e ver ali o resultado concretizado. Sensação de que as coisas podem dar certo, que apesar da falta de grana, do esquemão das gravadoras, da mídia cega e burra, das rádios jabazeiras, do público preguiçoso, ainda pode dar certo. Foi emocionante ver o público de Salvador lotar as dependências de uma casa tipicamente voltada para o pagode. Ver gente da velha e nova geração do rock, gente que nunca sai de casa, gente interessada em boa música e em boa diversão. Muita gente comentou que se surpreendeu com o número de pessoas no show, cerca de DUAS MIL. Eu esperava aquilo ali, Los Hermanos virou quase uma unanimidade para quem procura música de qualidade. A banda virou meio que uma febre no meio alternativo e todos os nerds da cidade resolveram sair de casa pra curtir a banda.
Pra mim o dia histórico que eu achava que iria ser se confirmou. Acho que a partir de agora dá para mostrar para patrocinadores, donos de casas de show, mídia etc que existe um público rock na cidade, que consome, tem bom gosto e que não aceita qualquer porcaria que é imposto goela abaixo. Que dá para fazer as coisas acontecerem por aqui. Pessoalmente só fiquei um pouco frustado porque não tive muito tempo pra botar som (fui Dj mais uma vez). Deu para rolar umas coisas bacanas e ficar feliz do povo cantar “Creep” em coro. Lindo. A brincando de deus entrou e fez um show bom, no mínimo correto como eles têm feito ultimamente. Mas acho que não era muito o que o público (formado em sua maioria por gente bem nova) curtia. No intervalo resolvi que ou o povo dançava ou ia pedir pra baixar o som. Acabou dando certo e esquentando o clima pro show. Quando o Los Hermanos entrou no palco foi histeria. A banda surpreendeu tocando várias músicas do primeiro disco, “Quem Sabe” (que o público cantou mais alto que a banda), “Pierrot”, “Tenha Dó”… e atiçou o público lembrando os tempos que a banda detonava com o misto de hardcore e letras de amor. Mas o ápice foi mesmo quando desfilaram os hits de “O Bloco do eu Sozinho”, levando ao êxtase com “Sentimental”, “Fingi na Hora Rir”, “Todo Carnaval tem Seu Fim”, “Retratos para Iaiá” , entre outras. Era nítida a surpresa da banda em ver tanta gente ainda mais quando cantavam as músicas do disco novo. A felicidade dos caras estava visível na troca de olhares e sorrisos em pleno palco. O clima era fantástico e ainda hoje é o comentário de quem foi, com aquela ponta de saudade e vontade que noites inesquecíveis como essa, tão raras em Salvador se repita várias vezes no ano. Viva a boa música!