The Moon Expresso é o nome do projeto de Ricardo Longo, cantor e compositor soteropolitano que surgiu no cenário soteropolitano em meados dos anos 2000 com a banda Starla. Radicado há alguns anos em São Paulo, ele já não coloca a música como o principal foco da vida profissional e é também sobre isso que trata em ‘Ever the Optimist’, seu novo álbum. Nessa entrevista, ele fala da obra, mas também da carreira, shows, mercado e influências.
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Quem: The Moon Expresso
O Que: Disco ‘Ever the Optimist’
Formato: Digital (por enquanto)
Onde: plataformas digitais (Bandcamp, Spotify e Deezer)
Por quem: Independente
Preço: Audição gratuita
– Gostaria que vocês contassem como foi a concepção do disco. Há um conceito nele?
The Moon Expresso: Não diria que ele é um disco conceitual, mas um fio condutor das composições é a ideia de rotina moderna, principalmente no que diz respeito a responsabilidades da vida adulta para além da música. É até um ponto inusitado, fazer música sobre não ter mais a música como ponto de destaque na vida profissional. Acho que isso permite uma abordagem mais leve em alguns casos. Uma canção que traduz bem isso é talvez minha letra preferida entre as do álbum, “Death of the Urban Bard”, que fala sobre aceitar essa “vida normal” como concomitante ao lado artístico, e até mesmo facilitadora dele em alguns casos.
– Como foi o processo de composição, produção e gravação do álbum?
The Moon Expresso: O ponto de partida pra começar a produzir o ‘Ever the Optimist’ foi minha vontade de fazer uma produção ainda caseira, mas menos lo-fi do que o primeiro disco que lancei como The Moon Expresso, o ‘Homesickology’, de 2017. Isso vai desde a utilização de mais instrumentos e equipamentos de gravação até a participação de convidados em algumas faixas. A maior parte das letras é muito influenciada pelo meu dia a dia desde que troquei Salvador por São Paulo, mas algumas delas são mais antigas, originalmente compostas para um possível segundo disco da minha antiga banda, a Starla (acho que o principal exemplo é um dos singles, “Bye Bye Verão”).
– Quais foram as principais influências durante esse processo de criação?
The Moon Expresso: A sonoridade mais baseada em sintetizadores que eu uso nesse projeto tem raízes em bandas de música eletrônica alternativa que gosto há muito tempo, como LCD Soundsystem, M83, Depeche Mode, etc. Mas eu também costumo citar algumas influências de rock alternativo mais tradicional que eram fortes na Starla, porque são bandas com carreiras bem ecléticas e que terminaram pendendo pra música eletrônica em algum momento. Alguns discos que fazem parte desse leque são o Adore, dos Smashing Pumpkins; o 13, do Blur; e a carreira do Radiohead pós-Kid A. O ‘Adore’, especialmente, tem muita influência na mistura de timbres acústicos e eletrônicos que usei pra esse disco.
– Em tempos sem ficha técnica disponível, o disco contou com quem na produção, arranjos, ou mesmo em participações?
The Moon Expresso: Como a razão inicial pra eu começar a gravar como Moon Expresso foi justamente o meu interesse por produção “do it yourself”, eu mesmo termino me encarregando de toda a parte musical, desde a composição e arranjo até a produção e mixagem. Hoje em dia, como é relativamente barato ter uma interface de áudio aceitável em casa, é fácil começar a mexer com isso e ir aprendendo na base da tentativa e erro, que foi mais ou menos o que eu fiz desde que comecei a me interessar. O ‘Homesickology’ foi um álbum, até pela ideia conceitual que ele tinha de solidão, que eu fiz 100% sozinho, fora a arte da capa. Pro ‘Ever the Optimist’, eu resolvi chamar Mariana Diniz, minha esposa e ex-vocalista da Matiz, pra cantar em uma faixa chamada “Disillusion”, até porque a nossa relação começou com uma admiração artística mútua nossa como parte da cena de rock de Salvador na década de 2000. Além dela, James Marijetich um amigo neozelandês de longa data, faz uma narração em uma faixa instrumental chamada “Alerta Laranja”. E para além da música, tive a ajuda de meus amigos Juca Oliveira, Manuel Sá e Pérola Mathias para a arte do disco e fotografias, e de Lucas Cunha na parte de divulgação.
– Como ele está sendo lançado e como encontrá-lo?
The Moon Expresso: O ‘Ever the Optimist’ foi lançado online em todas as plataformas de streaming, como Spotify, Deezer, Apple Music, etc. Hoje em dia, eu vejo disco físico, principalmente para projetos independentes, como um bom produto pra ser vendido em shows, e como o Moon Expresso é um projeto de estúdio, achei que não fazia muito sentido. O álbum também está disponível no Bandcamp, para streaming ou para download no esquema “pague quanto quiser”. E além disso eu mantenho um blog (themoonexpresso.blogspot.com) que é uma espécie de catálogo de tudo que eu lanço com o nome Moon Expresso, incluindo fichas técnicas, letras e informações gerais de divulgação.
– Gostaria que fizesse uma análise da sua evolução musical desde o início da carreira até este disco.
The Moon Expresso: Tenho um pouco de dificuldade em responder isso, porque não acho que minha trajetória como fã de música e como músico seja muito diferente da maioria das pessoas. Eu comecei a ter banda ainda adolescente, no fim dos anos 90, e a Starla, entre 2005 e 2010, foi minha primeira e única banda autoral a lançar disco e fazer parte de uma “cena”. Óbvio que nesse caminho é natural que você aprenda muito, melhore como instrumentista, passe a ser mais exigente com suas próprias letras, seus arranjos. Hoje em dia, apesar de fazer música majoritariamente sozinho, eu percebo muita influência das pessoas com quem toquei ao longo dos anos, tanto na Starla quanto em outros projetos menores com outros amigos. Mas acho também que uma das coisas mais importantes para a música que eu faço é uma sede por abertura de horizontes que sempre foi muito presente em mim. A MTV foi uma de minhas primeiras fontes de música lá nos anos 90, e eu gostava muito de assistir programas que mostravam coisas menos tradicionais, como Mondo Massari ou Lado B. Apesar de não considerar que a música que eu faço é exatamente experimental, é bem comum eu perceber, em uma música que fiz, alguma influência menos óbvia que eu nem sabia conscientemente que estava lá.
– Por que em tempos de streaming ainda lançar um álbum?
The Moon Expresso: Acho que porque tenho mais que 30 anos (rs). Na verdade, sempre me fascinou esse processo de construção de uma obra musical com começo, meio e fim. Nos trabalhos que já fiz, dentro e fora do Moon Expresso, a sequência das faixas sempre teve uma atenção especial. Por exemplo: a faixa 6 do ‘Ever the Optimist’, “A Thousand Boulders”, fala sobre um momento muito específico, que são as eleições de 2018. Escrevi ela depois de passar muito tempo antes das eleições com uma sensação de preparação pra uma tempestade, de que o mundo estava em um lugar bem perigoso e que os resultados disso estariam por vir. Aí lembrei de “Alerta Laranja”, uma música instrumental já bem velha, que eu fiz pra simbolizar uma tempestade se aproximando. Achei que as duas seriam perfeitas como faixas sequenciais; primeiro o alerta, mais urgente, depois a realização, com um certo cansaço, mas também com um sentimento de esperança. Terminou que as duas estão no disco e formam uma sequência que eu gosto bastante. Esse tipo de coisa não dá pra fazer com a mesma força se tudo o que eu lançasse fossem singles. Mas, de qualquer forma, lancei duas das faixas como singles também, que é uma concessão a um estilo mais imediatista de ouvir música (o que, convenhamos, nem é algo tão novo assim).
– Quais os planos para tornar este trabalho mais visível diante de tanta coisa sendo produzida?
The Moon Expresso: Meu esforço nesse sentido tem sido o contato com publicações independentes e também com curadores de playlists, que é um novo “filão” de divulgação nessa era do streaming. Como não há planos de fazer shows ao vivo, isso dificulta um pouco – mas a convite de uma amiga, que tem um site independente, fiz uma “live”, que é o show ao vivo desses nossos tempos estranhos, e foi bem divertido, então quem sabe? A verdade é que, na mesma medida em que é mais fácil hoje lançar música com uma certa qualidade de gravação, também é mais difícil fazer seu trabalho rodar por aí e ser ouvido, por termos tanta coisa boa disputando atenção. Mas aí a gente volta ao que eu falei lá no início: como a música terminou deixando de fazer parte do meu dia a dia profissional, a principal razão que eu tenho pra compor e gravar é o amor por fazer isso, então já fico satisfeito de verdade em lançar um trabalho que me orgulha. O resto, pretendo ir tocando na medida do espírito “do it yourself”.