A Sangue Frio estreia com influências de bandas de hardcore do inicio da década de oitenta, com guitarras desaceleradas e flerte com o indie.
Curtas, rápidas e certeiras. São assim as músicas da banda A Sangue Frio, uma das boas revelações do rock baiano em 2004. Eles acabam de lançar o primeiro CD (já tinham um EP lançado há seis meses), “Sonetos do Asfalto”, uma pancada sonora rapidíssima de apenas 21 minutos e trinta e dois segundos. A banda acerta no alvo nas curtíssimas doze músicas, que variam entre um e dois minutos de duração. Uma pancadaria sensível e não-gratuita, que não segue a linha hardcore tradicional do selo Estopim, responsável pelo lançamento. Fazem um som que vem sendo chamado de pós-hardcore, com peso e guitarras altas e diretas, mas com uma grande preocupação com as melodias. As influências vêm de bandas do inicio da década de oitenta de Washington DC, como Embrace, Dag Nasty e Rites of Pring, que desaceleraram um pouco o hardcore, colocando guitarras oitavadas e com letras um pouco mais pessoais. Acabaram criando o movimento EMO, bastante diferente de como é conhecido o gênero atualmente.
A Sangue Frio está mais para o som dessas bandas oitentistas do que para o que chamam hoje de Emo, apesar de também falarem de relacionamentos amorosos em suas letras. Mas vão além, com letras curtas e diretas colocam indagações e posições políticas, focadas em críticas à apatia e ao sistema, sem soar panfletário. Como em “Resignado”: “A luta se mostrou cansativa e intensa para a sua pouca força de vontade. Sua máscara logo caiu e por isso resolveu escolher o caminho mais curto, se resignar e “crescer”. Sei que tinham coisas mais importantes a fazer, trabalho, estudos, ilusão e resignação”. Interessante são os vocais de Fabiano Passos, que faz quase que simultaneamente um vocal principal melódico e gritos agudos e estridentes nos backings. É talvez a banda meio termo entre o hardcore e os sons mais indies e pop de Salvador, podendo agradar os dois lados. Grande e boa novidade do cenário local.