A cantora e compositora baiana Ivana Gaya acaba de lançar seu primeiro disco, “Magia Negra”: uma curiosa mistura de pagode baiano e da nova mpb. Fruto da parceria entre Gaya e o Jotaerre (Psirico), que assina a produção.
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Por Breno Fernandes*
Na primeira vez que o escutei, o álbum me soou horizontal, melodicamente falando. O que significa que a atenção acabou sendo minada, o ouvido não foi capturado de imediato. Já na segunda vez consegui me envolver mais. Fui capaz de captar nuances nos arranjos e de me divertir identificando, ademais da influência do pagode (“Pode chamar”), a presença de elementos da axé music (“A caminho de casa”), do samba-reggae (“Contracene, contrarregre”) e do arrocha (“Convite para Bey”).
Como escritor, a qualidade literária das letras é algo em que presto bastante atenção. E gostei muito das composições de Gaya, mesmo das mais panfletárias, como “Invasão”, cujo peso militante do texto ela contrabalanceia cantando com muito lirismo. Gostei também da imagem tão soteropolitana que abre “A caminho de casa” (“São cinco horas da tarde/ E o cheiro de dendê toma conta da cidade”), que me deu muita vontade de comer o acarajé de Regina em pé ao lado do tabuleiro, junto com as pessoas que passam por lá na saída do trabalho.
Minha canção favorita, entretanto, é “Contracene, contrarregre”, que tem letra à Carlinhos Brown — com jogos linguísticos e profusão de imagens — e uma malemolência melódica que põe para dançar até mesmo um sujeito duro como eu. Espie só:
* Breno Fernandes é escritor, auto de livros como “Mendax, o ladrão de histórias”, “Os fanzineiros” e “A mão do poeta”