Se o rock era tratado pelos adultos nos anos 50, 60 e 70 como um gênero vazio, sem conteúdo, devasso, coisa de marginal e até como não-música, hoje a reclamação daqueles que eram os filhos revolucionários é com o rap, r&b e outros gêneros que os jovens ouvem. É a eterna briga de gerações, sempre desconsiderando que a experiência deixa qualquer um meio reacionário. Quando o rap surgiu era muito diferente do que é visto hoje na TV. Era uma evolução das improvisações feitas na Jamaica sobre uma base repetitiva. Logo chegou nos Estados Unidos e foi adaptada, servindo como ferramenta de protesto das comunidades negras e dos guetos por cima de bases de funk e outros sons. Ritmo e poesia. Com grupos como Public Enemy e Run D.M.C. mostrando ao mundo aquela novidade agressiva, urgente e politizada. Já o r&b de hoje é filho dos sons negros dos anos 60 e 70, em especial aqueles forjados na Motown. Assim como tudo que a indústria pega para faturar em cima, gêneros como estes foram transformados em algo com pouca criatividade rítmica, letras tolas e postura que pregam apenas por dinheiro, sexo e violência. Tiram a essência mais provocativa e colocam fórmulas em cima. É bem mais que isso, entretanto. Enquanto o destaque vai para a parte mais comercial, aqueles que passam o tempo todo na TV e embalam festinhas mais caretas, outros grupos e artistas continuam mostrando provocações e novidades no gênero. Até no meio comercial, alguns nomes já aparecem com uma produção mais caprichada e saindo do mais do mesmo. E ai a lista vai de DJ Shadow, Jurassic 5, De La Soul (que se apresenta em São Paulo em dezembro) The Roots, até Black Eyed Peas, que começa a se tornar um fenômeno por aqui e é uma mostra de como unir essas sonoridades com criatividade e ser pop, bastante pop. Assim como o Gnarls Barkley que cometeu a melhor música do ano, “Crazy”. É tirar a pele do preconceito e procurar o que existe de bom no meio, porque existe. É saber diferenciar.
Aposta no Brasil
O rap, o hip-hop, o r&b e estilos da nova geração negra, especialmente americana, vão continuar infestando sua vida. No Brasil, os olhos começam a se voltar com mais atenção para estes ritmos. A TV Globo, por exemplo, resolveu investir num projeto que traz quatro cantoras negras da periferia que cantam rap. É a série Antonia com as cantoras Negra Li, Leilah Moreno, Cindy e Quelynah. Mais, a gravadora Universal, a mesma que nos anos 90 fez a Axé Music virar fenômeno, quer criar uma versão da Motown no Brasil, para isso contratou três dessas cantoras e está investindo. A gravadora já tem em seu cast nomes como Afroreggae e MV Bill. Negra Li, que saiu do universo do rap, já está tocando nas rádios. O melhor do rap nacional pode ser conferido no Prêmio Hutuz, que está com votação aberta em seu site (http://www.hutuz.com.br), e divulga no próximo dia 23 os vencedores.
Cansei de ser público
Nessa leva de novidades execradas por uns e amadas por outros, um grupo brasileiro parece que vem se tornando sensação fora do país. O Cansei de ser Sexy surgiu embalado pela imprensa paulista. Rapidamente conseguiu espaço em festivais pelo Brasil, mas foi fora daqui que ganhou mais respeito. Hoje o grupo faz turnês pelos Estados Unidos e Europa, transfere shows para lugares maiores pela demanda do público, estampa capas de revistas especializadas, é tratado como “next big thing” pela imprensa de lá e vem se revelando com o próximo Seputura. Se muita coisa de nossa música precisa passar pelo crivo estrangeiro para ser exaltado por aqui, talvez o CSS seja o oposto, um som tosco e exótico que é capaz de agradar apenas a gringos cansados da mesmice da música pop. Ou não.
Rock in Rio em série
Está fazendo falta um evento do porte do Rock in Rio para reunir nomes da música pop dos mais diferentes estilos, mas com uma penetração maior no público. Pena que o evento tenha se mudado para Lisboa. Enquanto isso, no Brasil está saindo em CD e DVD uma série de shows que fizeram história no Rock in Rio desde 1985. O primeiro a sair é o álbum com Cássia Eller, com o show da cantora na edição de 2001. A série deve trazer na seqüência os shows do Barão Vermelho e Paralamas em 1985, além de Neil Young, Queen e James Taylor.
O camaleão
Boa notícia para os fãs de David Bowie. O músico vai reeditar no primeiro trimestre de 2007 parte de seu catálogo dos anos 60, 70 e 80. Dezesseis trabalhos do cantor e compositor serão relançados, incluindo clássicos como “The Rise and Fall of Ziggy Stardust”, “Space Oddity”, “Heroes”, “Low” e “Let´s Dance”.