Texto de Marcelo Fróes*
O ressurgimento de pequenas lojas de música é fato nacional. Frequentemente somos procurados por novos lojistas querendo revender nossos produtos. Acho que o mercado está voltando ao que era há 50 anos – antes do surgimento de grandes cadeias como as Lojas Americanas, que nos anos 1980 e 90 protagonizaram o boom de vendas de LPs e CDs. Os grandes executivos de vendas das gravadoras concediam descontos astronômicos às Americanas e era mais barato e vantajoso pro pequeno lojista comprar nas Americanas que das gravadoras. Foi o fim da maioria das lojas e o nascimento da dependência preguiçosa do mercado fonográfico – das Americanas, e depois da Saraiva.
Quando as Americanas começaram a jogar duro com prazos de pagamento, as gravadoras encontraram conforto na Saraiva. Mas, passados alguns anos, quando a Saraiva parou de comprar CDs e passou a trabalhar com consignações, como sempre viveu o mercado literário, o mercado fonográfico entrou em desespero. E agora, com a tal recuperação judicial (da Saraiva e também da Cultura), a situação ficou caótica. Pouco se fabrica, há um deslumbre com o mercado digital, mas é preciso entender que esse é um fenômeno brasileiro. Lá fora artistas lançam CDs e vinis e não há essa lenda de que o vinil está voltando e o CD morrendo. O vinil lá fora nunca foi abandonado pela indústria, como foi aqui, e lá fora ninguém faz campanha pelo extermínio do CD.
Há 10 anos precisei comprar um toca discos novo e não achei em loja nenhuma do Rio. Tive que ir a São Paulo e comprar na única loja especializada na rua Santa Efigênia. Hoje você acha toca discos em qualquer shopping do País. Se hoje não é fácil achar player de CD, isso pode ser apenas momentâneo. O boom do lançamento em vinil até já passou, por ser irremediavelmente caro, e vinil e CD caminham para uma convivência menos radical. As feiras vivem de acervos desfeitos – seja de colecionadores, sejam de rádios, como há décadas vivem os grandes sebos. Só que agora, além de vinil, também vendem CDs. Quanto valerão no futuro CDs fabricados com tiragens de 300 ou 500 cópias?
Não creio que o CD vá acabar, o mercado está apenas se ajustando a uma realidade de pequenas lojas – como há 50 anos, quando disco vendia bem menos e os grandes artistas, sem patrocínios, faziam shows em teatros menores para viver. E arrisco-me a dizer que no futuro teremos “reedição” em CD e LP de discos que as gravadoras lançaram apenas nas plataformas.
* Marcelo Fróes é produtor musical, escritor, advogado, pesquisador de música popular brasileira e proprietário do selo Discobertas, responsável por diversos relançamentos da música brasileira.