Conexão Vivo promove intercâmbio entre bandas do Brasil em quatro cidades baianas

Projeto mineiro incentiva mercado independente e esquema de coletivos entre produtores de diversos estados do País. Edição 2010, teve início em Belo Horizonte com shows diversos e boa presença de público e agora segue para Bahia e Pará.

Os cariocas da banda Do Amor misturaram de forma insana rock com  música baiana
Os cariocas da banda Do Amor misturaram de forma insana rock com música baiana

Artistas de várias partes do País virão à Bahia como convidados de bandas locais e para shows próprios em apresentações dentro do Projeto Conexão Vivo. Idealizada em Minas Gerais há 10 anos, é a primeira vez que a iniciativa expande seus contornos até a Bahia, chegando às cidades de Juazeiro, Vitória da Conquista e Ilhéus, entre os dias 10 e 29 de maio, e Salvador, entre 3 e 6 de junho.

A fase baiana, que é a segunda etapa do projeto, ainda não definiu todos os detalhes, mas já confirmou alguns nomes. São eles: Mateus Aleluia, Baiana System, Lui Muritiba, Ilê Aiyê, Jau e Mariene de Castro que se apresentarão na capital e nas cidades do interior recebendo convidados.

Além dos artistas baianos, vão circular pelo estado alguns dos 50 nomes de várias partes do País selecionados do edital nacional do projeto. Entre os aprovados, Chico Pinheiro, Nina Becker, Rômulo Fróes, Cérebro Eletrônico, Kassin e Wado.

Em Salvador, o projeto, que deve acontecer na Praça Wilson Lins (onde ficava o antigo Clube Português, na Pituba) tem também confirmados duas parcerias. A banda baiana O Círculo e o grupo de rap Opanijé, que toca com Thaíde e B Negão.

A lista de representantes da música mineira que vem para cá inclui Indiada Magneto, Cataventoré, Renegado, Babilak Bah e Cléber Alves. Estes se apresentam sozinhos. Já outros como Sérgio Santos dividem o palco com a cantora Joyce; Patrícia Ahmaral com Moska; Falcatrua com Jorge do Peixe (Nação Zumbi) e o quinteto Zé da Guiomar toca com Armandinho.

Também completam a programação de Salvador sete artistas selecionados do edital do projeto. A confirmação destes ainda está sendo estudada – o que depende de compatibilidade de agendas, basicamente

Esquema coletivo

A programação, no entanto, não se encerra com esse evento principal. Uma outra vai acontecer, seguindo moldes parecidos com o do projeto Segundas Musicais. Assim como a iniciativa baiana, os shows serão na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, no Campo Grande.

A novidade é que as apresentações serão gravadas e lançadas em formato CD e DVD e ganharão um programa de rádio e TV, que ainda estão sendo negociadas. Como contrapartida, os artistas têm ainda que realizar oficinas.

Há ainda o Mais MPB, projeto que levará nomes como Chico César, Vania Abreu e Mariene de Castro para apresentações em teatros de Salvador, Juazeiro, Conquista e Ilhéus. Será feito também um trabalho específico nessas cidades do interior, engendrado pela Rede Motiva. A rede se autodefine como um movimento articulado de ações para expandir todo trabalho ligado à música brasileira.

É responsável por fazer visitas técnicas, preparar laboratórios de estímulos ao empreendedorismo e formar redes de trabalho em todas estas cidades.

Dentro deste contexto, mostras estão programadas para acontecer ainda em maio. Em junho será a vez de festivais, que acontecerão sempre seguindo os moldes de dois artistas locais e um âncora convidado. Como resultado destes encontros será produzido um documentário e uma coletânea.

Presença baiana

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Para Tico, guitarrista da Radiola, o Conxão "é um caldeirão de cultura local e universal"

Selecionada no edital do Conexão Vivo, a banda Radiola tocou na primeira etapa do projeto, em Belo Horizonte, com gente de várias cidades. Para o guitarrista Tico Marcos, o projeto é uma boa oportunidade para a música se renovar, especialmente a baiana, o que, segundo ele, não acontece para o grande público há mais de 20 anos.

“O Conexão está sendo um espelho da música independente brasileira voltada para a inovação, mas sem esquecer de valorizar os artistas de raiz que nunca tiveram oportunidade de se misturar ao novo. Ou seja, é um caldeirão de cultura local e universal… um pé no futuro, mas sem esquecer do que é bom do passado”, filosofa.

Mais de 600 artistas brasileiros e internacionais já participaram
Enquanto as gravadoras reclamam da crise, o mercado dito independente segue buscando caminhos. Essa é a aposta do Conexão Vivo, que este ano, além da Bahia, vai ao Pará. “Queremos expandir o projeto pelo Brasil todo. Uma expansão que vai ganhando terreno, no diálogo com os estados, secretarias de cultura, coletivos e artistas”, explica Kuru Lima, produtor e gestor da iniciativa.

A intenção é pegar um circuito já existente e potencializá-lo. Conectar diversos elos da cadeia da música para que a cena, rica de ideias mas carente de recursos, possa trabalhar com maior vigor. “Esse mercado novo precisa de um empurrão, de um fôlego orçamentário e de estrutura”, diz Gabriel Bubu, guitarrista da banda Do Amor, que se apresentou em BH.

Circular
A edição 2010 começou com a abertura de um edital, que recebeu mais de 1,3 mil artistas inscritos e selecionou 50: 46 deles por curadoria e quatro por votação popular na internet.

Além dos shows, as capitais desses estados recebem o Seminário Internacional de Música e Movimento, que reúne profissionais e estudiosos para debates sobre a cadeia produtiva da música e a atual situação do mercado. No interior, acontecem oficinas de captação.

A ideia começou a ser gerida no final dos anos 1990, por artistas e produtores independentes que sentiam a necessidade de fazer uma ação coletiva compartilhada. Pessoas que estavam numa situação semelhante, artistas de várias vertentes que não conseguiam espaço para expressar sua arte.

Kuru Lima: “Saímos circulando não só por BH, mas pelo interior do estado e por São Paulo e Rio”. Algumas vezes com convidados mais conhecidos, como Milton Nascimento, Zeca Baleiro, Ira. “Eram nomes que estavam escondidos e precisávamos desesconder”, explica.

Já passaram pelos palcos do projeto, que está com seu segundo parceiro da iniciativa privada, mais de 600 artistas brasileiros e internacionais, além da produção ou financiamento de mais de 250 mil CDs e DVDs. “Isso só esta começando, mas encontramos um caminho para fazer isso e agora está sendo replicado”, planeja.

Belo Horizonte recebeu primeira etapa do projeto

A edição 2010 do Conexão Vivo teve início em Minas Gerais e foi do dia 12 até o último domingo, em Belo Horizonte. Uma série de atividades incluiu apresentações de mais de cem artistas, seminários, palestras, mostras de vídeo e exposições.

Circularam pelo evento, artistas desconhecidos da maioria do público, que vão de Pio Lobato, do Pará, a Cassim & Barbária, de Santa Catarina. Sem celebrar um estilo ou ritmo único, estiveram reunidos artistas de rock, hip hop, eletrônica, mpb, um pouco de tudo e quase um álbum de figurinhas completo do que vem rolando de mais interessante na música brasileira atual.

Os baianos deram uma mostra do grande caldeirão que foi o evento: Jau, Radiola, Tiganá, Orkestra Rumpilezz, Ilê Aiyê e Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta se revezaram com outros artistas de várias partes do País.
Espalhados em diversos pontos da cidade, mas concentrando a maior parte no belo e aconchegante Parque Municipal, no centro da cidade, os shows foram uma bela mostra que o público pode se interessar por música fora de rádios e TVs, basta eventos saber como atraí-lo.

Público
Em Belo Horizonte, um dos pontos altos do evento é justamente o púbico, além de bastante receptivo às novidades, ele comparece em peso para ver muitas vezes artistas que nunca ouviu falar e faz longas filas antes dos shows para trocar mensagens de SMS por ingressos.

O paulista Marcelo Jeneci fez um belo show e seduziu a plateia com sua mistura de Beatles e Clube da Esquina
O paulista Marcelo Jeneci fez um belo show e seduziu a plateia com sua mistura de Beatles, Roberto Carlos e Clube da Esquina

Entre as mais de cem apresentações, novidades surpreendentes. Como a delicadeza do paulista Marcelo Jeneci, que fez um belo show para uma platéia que foi sendo seduzida aos poucos pelas suas belas canções que ficam entre um pop Beatles e o Clube da Esquina. A lista de bons shows é imensa e incluiu ainda a mistura meio insana de rock e música baiana da banda carioca Do Amor, que arrebatou o público mineiro. Ou o forró atualizado dos sergipanos da Naurêa, que implantou o clima de São João fora de época.

Entre artistas ainda imaturos e não tão bons, bandas desperdiçando a oportunidade para desfilar covers, a música de Minas Gerais também ganhou destaque com nomes como a banda Porcas Borboletas, de Uberlândia, que faz uma música de vanguarda carregada de poesia e performances. Ou a Virna Lisi, que depois de um tempo parada voltou no ano passado e continua mostrando estar afiada com um interessante póos-punk recheado com referências brasileiras, letras bacanas e um sensacional vocalista.

Muitas outras bandas e artistas, de Minas, Bahia, e de quase todos os estados do país passaram por Minas durante os dias de evento, revelando como a música brasileira atual anda rica e fértil, mas ainda necessitando de projetos desse tipo para ganhar impulso.

O REPÓRTER viajou a Belo Horizonte a convite da produção do evento

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