BaianaSystem e Nação Zumbi e lançam juntos ‘Alfazema’, música pensada para o Carnaval deste ano.
A característica máscara do BaianaSystem de repente apareceu nas páginas do grupo com um cablo rastafari e as puãs de um caranguejo. A ilustração foi a deixa para a nova música feita em parceria com a Nação Zumbi. ‘Alfazema’ segue uma rotina da banda baiana de lançar uma faixa tema para o Carnaval. Um resumo dos conceitos do discurso para a festa. Não é por acaso que o encontro inédito está sendo lançado no dia da Festa de Yemanjá. Isso porque a música traz um clima de celebração espiritual e remete às festas populares. A data seria também a data do primeiro show conjunto das duas bandas, que chegou a ser anunciado. No entanto, foi cancelado por supostos boicotes de espaços de shows da capital baiana.
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Produzida por Pupilo, ‘Alfazema’ tem autoria dividida entre Russo Passapusso, Jorge Du Peixe, SekoBass, Pupillo, Dengue e Lúcio Maia. As duas bandas aparecem tocando juntas, além de trazer Russo e Dupeixe dividindo os vocais. A faixa traz uma sonoridade atmosférica, dançante, mas não acelerada. Se encaixa com a letra que traz os seguintes versos: “Um casal que chora na beira da praia/ Ele disse: E agora?/ Ela disse: seu tempo acabou/ Diacho eu não te acho/ Entro na roda, fico louco/ Danço um côco furioso até o dia acabar (…)”
Roberto Barreto, guitarrista e um dos líderes do Baiana, conta que o tema funciona como um resumo do que abanda está propondo. “É uma coisa que levanta tudo o que está passando por nós artisticamente e, musicalmente, diz o que queremos comunicar. Ela parte desse simbolismo que a alfazema traz de ser uma coisa apaziguadora, uma coisa que pega as pessoas pelo cheiro. Tem a ver com essa sensação que a gente está sentindo, de que vivemos um momento muito tumultuado. Todo mundo falando muito, escrevendo muito. Os estímulos são todos através do olhar, da tela, dos posts. A alfazema eleva para a coisa do cheiro, da sensação, o cheiro do carnaval, o cheiro da rua. Tem associação também com a coisa de benzer, batizar e de apaziguar”, explica Roberto Barreto.
Conceito
Segundo ele, a ideia de alfazema remete também para a ideia de memória, de lembrança. “Nesse Carnaval a gente está buscando trazer isso. As perguntas que a gente já fez lá atrás, em 2010, com o primeiro disco. De como serão os futuros carnavais, vêm reverberando e cada vez faz mais sentido”.
Para Beto, a Alfazema traz essa memória, da rua, do cheiro dos blocos, do desfile. De todo o ritual que se tem ligado aos blocos afros e aos afoxés, aos batuques de rua. “Tudo isso tem um cheiro: o carnaval, as festas de Largo, a festa de Iemanjá, a Lavagem do Bonfim. Tudo isso que perpassa essa história e que também tem uma ligação muito forte com Pernambuco, lá também tem um Carnaval que traz isso, os tambores, os cheiros, a coisa da rua. O nosso encontro com a Nação se deu através disso. Nesse sentido da Alfazema ser um símbolo feminino, uma sensação feminina, apaziguadora, de memória e de lembrança”, diz o músico
“Desde o primeiro ano em que saímos no carnaval, queremos contestar o formato que a festa tinha, o formato dos blocos, das filas de trio, a exclusão de pessoas, exaltando a multiplicidade e a explosão social que a festa significa” – Beto Barreto.
Ele explica ainda que alfazema traz essa sensação de apaziguar e de memória e leva ao pensamento de como serão os futuros carnavais. “Desde o primeiro ano em que saímos no carnaval, queremos contestar o formato que a festa tinha. O formato dos blocos, das filas de trio, a exclusão de pessoas, exaltando a multiplicidade e a explosão social que a festa significa. O Navio Pirata veio sendo construído dessa forma. Quando a gente olha para trás e pensa em reduzir o tamanho do trio, em aproximar a gente do público, ser um trio o pequeno. O Navio Pirata tinha essa ideia de pirataria mesmo. Que é meio que na contramão do caminhar dos blocos e dos trios”, afirma Barreto.
Carnaval
Sobre o Carnaval 2018, o músico fala que abanda continua com o sistema aberto. “Os convidados podem ser vários, as músicas podem ser várias, a gente nunca define exatamente o que vai tocar. Esse tema puxa tudo isso. Na verdade, engloba desde antes, com as apresentações que fizemos no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso, em Recife, em São Paulo. Em Salvador antes e durante o Carnaval e pela primeira vez nas ruas de São Paulo também com o Navio Pirata. Isso tudo vêm banhado dessa Alfazema, desse cheiro, dessa sensação. Assim como a gente já teve o tema Invisível (Carnaval 2017), agora o nosso tema é Alfazema”.
Programação
Por falar em Carnaval, depois das polêmicas sobre a participação do grupo na festa. Serão três dias de apresentações na festa. Dois dias com o já tradicional trio Navio Pirata. Sábado (10), no circuito Dodô (Barra-Ondina), e terça-feira (13), no Campo Grande (circuito Osmar). No domingo (11), a banda se apresenta no Pelourinho. O Baiana esteve ameaçado de ficar fora do Furdunço em 2018. A Prefeitura de Salvador, no entanto, encontrou uma forma de evitar críticas e ao mesmo tempo não dar tanto espaço ao grupo. A banda foi escalada para o desfile apenas no dia 4, no domingo pré-carnavalesco. E ficou de fora no dia 8, quando acontece no meio da festa. No dia 17 de fevereiro, o grupo leva o Trio Fantasma pela primeira vez para as ruas de São Paulo.
Mais músicas novas
Quem acompanha viu que nas últimas semanas, o Baiana já havia lançado outra faixa inédita. Uma delas resultado da parceria como pessoal do Heavy Baile, de Leo Justi e MC Tchelinho. ‘Ziquizira’ traz influências do tamborzão e da música africana. Assim como ‘Alfazema’, junta Bahia e Pernambuco, essa outra faixa reúne elementos do Rio de janeiro com a Bahia. “O beat foi iniciado em cima de uma ideia minha, da flautinha, com a adição de uma percussão bem carnavalesca que o Mahal botou. Aí desenvolvi pra uma parte Miami também, que faz o link com a era do funk nos anos 2000 que influenciou o Russo”, explica Leo Justi.