Quem mora no Nordeste ou é nordestino quando vai ao Sul Maravilha sente claramente o preconceito que existe contra baianos, pernambucanos, paraibanos, alagoanos e nordestinos e nortistas em geral. É, aliás, o mesmo preconceito que atinge motoqueiros, gente que mora em morros e favelas, trabalhadores em geral… É algo que Chico Buarque falou numa entrevista recente. Tenta-se generalizar por pura ignorância e preconceito. Muito culpa da violência e de uma paranóia em torno dela. Cada vez mais o “povo do asfalto”, quem ganha mais de mil reais por mês, quem tem seu bom salário, seu carro, se isola, quer distância do resto, do tal povo. Por isso junta tudo num mesmo saco. Bandido mora na favela, logo quem mora a favela é bandido. Trabalhador que mora na favela logo é tratado como bandido. Motoqueiro trabalhador, favela = bandido. Pobre, trabalhador, nordestino, favelado = bandido. Uma lógica louca que se transforma num mundo esquizofrênico de preconceito, generalização e paranóia.
O contrário também é real. Uma auto-defesa contra esse posicionamento preconceituoso transforma tudo que não é povo em o outro, o explorador, o preconceituoso. São dois mundos que nem são distantes, mas que se colocam como tal. A velha luta de classes. A venha sanha em ser preconceituoso ou se sentir discriminado. Da mesma forma que a visão deturpada transforma nordestino em preguiçoso, trabalhador em bandido, o contrário transforma qualquer crítica, qualquer visão mais realista em preconceito. É o lado inverso da moeda. Um complexo de perseguição, uma posição de que ninguém pode escancarar uma realidade na cara. Uma proteção que as vezes ecoa mais preconceituosa do que quem acusa. Uma proteção do preconceito que se revela um complexo em qualquer comentário sincero sobre sua realidade.
Vem acontecendo um linchamento público na internet há alguns dias. Uma atitude covarde. Acredito que ninguém aguenta mais nossa imprensa, burra, mesquinha, cega, egoísta, preconceituosa e cínica. O ideal, no entanto, é saber diferenciar o joio do trigo, a velha máxima que nos obriga a prestar atenção no que se diz, no que se lê, em como se escreve e como se lê.
Uma briga de colossos tem sido travada na grande mídia entre um jornalista global e um pseudo intelectual da revista de maior circulação do país. Não dá para acreditar em nenhum dos dois, talvez os dois se enlamem em sua briga. É preciso mais do que acusações para sujar um homem, mas quando isso é feito com o aval e com um espaço que atinge milhões é perigoso. Mas será que há punição para quem escreve o que quer nesse país?
Briga de cachorro grande.
Bem diferente de outra travada, principalmente, no Orkut. O jornalista Alexandre Matias, homem de bom caráter e desprovido do preconceito que habita as mentes de boa parte de colegas seus jornalistas. Pelo menos do preconceito que vem sendo acusado. Em um texto sincero sobre Maceió fala do atraso que a cidade vive, revelada por parte de seus próprios moradores. Sinceridade que foi sentida por muitos dos alagoanos. Irritados, raivosos, se rebelaram contra o jornalista de forma grosseira e rude. Isso não revela nada mais sobre Maceió ou Alagoas. É uma reação que vem se tornando comum. Todos acham que tem voz e podem falar o que quer. Sem precisar ler ou entender como devem, preferem encaixar no discurso do complexo e reagir.
Pressionado, Alexandre Matias mudou seu texto, tirou a introdução em que falava da cidade e se ateve apenas ao Festival que foi cobrir. Mais do que se concentrar em ataques pessoais ao jornalista e exigir até a demissão dele, essas pessoas deveriam pensar que vivemos sim desigualdades. Salvador, Recife e Maceió são cidade que sofrem por uma pobreza secular. São Paulo e Rio de Janeiro também. Vivemos todos diante de mazelas semelhantes. Desigualdades. Podridões. O trauma de ser discriminado não dá razão a ataques covardes a um homem que assume suas opiniões. Não inventa realidades e não as diz com desprezo. Discordar é um direito, é importante, inclusive. Mas partir para agressão, para o linchamento é um sinal de complexo, de falta de argumento e de covardia. Queria me solidarizar com o colega Alexandre Matias, sem um pingo de corporativismo, até porque, acho que boa parte dos jornalistas tem merecido o desprezo. O diálogo é sempre o melhor passo para a compreensão.Leia o que Alexandre Matias escreveu no Trama Virtual
E a reação grosseira nos scraps deleE a retratação dele, com alteração na parte introdutória do texto