Dos mais virtuosos e subestimados artistas da nova música brasileira, o cantor e compositor Wado está completando 15 anos de carreira e promete que vai sacudir, vai abalar a lista de melhores discos do ano quando seu novo trabalho, “Ivete”, passar. Depois de explorar o mundo do samba e do funk carioca em “Samba 808”, de 2011, o catarinense radicado em Maceió finca suas bases no axé e no ijexá em seu nono álbum, com lançamento previsto para os próximos meses.
— O axé é bem mais punk que o próprio punk — explica Wado, de 38 anos, ao citar as temáticas de denúncia comumente explorada em músicas do gênero nascido na Bahia. — Ivete Sangalo (que, obviamente, inspira o nome do disco) é a musa a não ser alcançada, ela é norte, mas não é ela quem canta o disco. Ela é a musa intocada da empreitada.
Entusiasta dos mais diversos derivados da música brasileira, ele também já tinha flertado com o axé em “Atlântico negro” (2009), mas, desta vez, mergulha de corpo e alma no gênero cujo nome completou 30 anos em 2015 — mesmo ano em que Wado lançou o roqueiro e certeiro “1977”.
Em “Ivete”, o músico regrava Gilberto Gil e Moreno Veloso e conta com parcerias de Zeca Baleiro, Momo, Marcelo Camelo, Dinho Zampier (Figueroas), Alvinho Lancelotti e Thiago Silva, do Sorriso Maroto. De uma destas dobradinhas com Thiago saiu “Alabama”, o primeiro single de “Ivete”, que o Amplificador apresenta com exclusividade (ouça abaixo).
— “Alabama” é bastante representativa no disco. Ela traz uma coisa de guitarra baiana, do Armandinho nos primeiros disco solo do Moraes Moreira, que é uma referência pro “Ivete”, e traz também os assuntos daqueles primeiros axés de 1980 e poucos, aqueles mais políticos… Eram aquela coisa de afirmação afro que eu acho massa. Musicalmente, acho ela bem forte, tem essa coisa meio agarradinha desses arranjos de pré-axé e a levada de bateria já é axé, acho que ela representa bem o álbum. Ela é bem vazia de percussão, a maioria das outras faixas tem percussão e teclado, e essa não, ela é bem sequinha, ela abre o disco assim e depois a gente vai colocando os adereços, as gorduras do axé. É um axé esquisito, mas tem um astral leve na gravação, simplesmente deixei a banda tocar e os arranjos foram surgindo por eles. A gente tem um bloco aqui que chama Bloco dos Bairros Distantes, pra gente não foi difícil mergulhar nessa linguagem, e com a experiência anterior também do “Atlântico Negro”, né? “Alabama” é a predileta do Joaquim, meu menino, e minha também.
— Nos assuntos, “Alabama” traz uma imagem da “Strange fruit”, o “sangue nas folhas e sangue na raiz” vem de lá, e retrata os negros americanos enforcados na época da escravidão americana. É uma música bonita que a Nina Simone cantava. Alabama é o estado do Martin Luther King também, ela fala de Racionais e tem o “ô” também de axé, ela percorre esses caminhos. Essas temáticas de denúncia são bem comuns no axé. O axé é bem mais punk que o próprio punk.
Conheça a tracklist de “Ivete” com os compositores de cada faixa:
1. “Alabama” (Wado, Thiago Silva)
2. “Terra Santa” (Wado/Junior Almeida/Dinho Zampier) (contém trecho de “Jesus é palestino” (Carlinhos Brown, Gerônimo Santana, Alain Tavares))
3. “Um passo a frente” (Moreno Veloso, Quito Ribeiro)
4. “Sexo” (Wado, Thiago Silva)
5. “Mistério” (Wado, Zeca Baleiro)
6. “Filhos de Gandhi” (Gilberto Gil)
7. “Você não vem” (Wado, Momo, Marcelo Camelo)
8. “Samba de amor” (Alvinho Lancelotti, Momo)
9. “Amanheceu” (Wado, Beto Bryto)
10. “Nós” (Wado, Zeca Baleiro)
Dona Onete
Dona Onete lança com exclusividade no Sobe o Som o novo single dela, “Tipiti”. Fortemente influenciado pela cultura e pelo folclore nortistas, a mais recente canção da artista paraense faz uma referência ao tipo específico de prensa de palha bastante utilizada na amazônia para escorrer mandioca e secar raízes.
Aos 77 anos, a cantora e compositora – que também já atuou como secretária da cultura e professora de história e estudos paraenses – dá continuidade à carreira e se prepara para lançar o segundo disco dela, que contará com doze canções autorais nos estilos que a consagraram: o bolero e o carimbó.
Intitulado Banzeiro, nome que remete à onda provocada pelos barcos que trafegam pelos rios que formam a extensa bacia hidrográfica Amazônica, o disco será lançado no dia 23 de junho com exclusividade no Deezer e estará disponível para download no portal da Natura Musical a partir de 5 de julho. O sucessor de Feitiço Caboclo (2012) terá ainda um show de lançamento em Belém no dia 8 de julho, ao lado de Pinduca e Saulo Duarte e a Unidade.
Cátia de França
Hóspede da Natureza é a faixa-título do novo disco da cantora paraibana Cátia de França. A música é inspirada no livro “A Vida nos Bosques”, escrito em 1847 por Henry D. Thoreau. Buscar inspiração na literatura não é novidade para Cátia, que, em mais de 40 anos de carreira, já trabalhou com obras de Guimarães Rosa, Manoel de Barros e João Cabral de Melo Neto.
A faixa, produzida por Rodrigo Garcia, foi majoritariamente gravada em uma casa em Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro. Na ficha técnica aparece uma banda de peso, incluindo alguns integrantes que acompanhavam Cássia Eller: Walter Villaça na guitarra, Lan Lan na percussão e Zé Marcos nos teclados. Os sopros são assinados pelo multi-instrumentista Marcelo Bernardes, além de contar com Alex Merlino na bateria, Jander Ribeiro na pandeirola e Nando Vásques nos baixos. Os violões de cordas de aço de Cátia e Rodrigo compõem os créditos.
O projeto, que inclui lançamento do disco e turnê de lançamento com shows em cinco capitais, foi selecionado para patrocínio pelo edital nacional Natura Musical 2015.