Canastra, uma daquelas boas coisas que o Brasil tem e pouca gente conhece (direto do Rio)
Duas inquietações tomam conta de quem está mais atento de como anda a música brasileira ao se deparar com o excepcional show da banda carioca Canastra.
1 – Como é que pode uma banda de tão alta qualidade, com um compositor de alto nível quanto Renatinho, não ser pelo menos um sucesso nos meio mais alternativos?
2 – Como é que podem ficar afirmando por ai que a música brasileira está ruim?
Na verdade as duas questões possuem respostas nem tão difíceis e quem resvalam em problemas comum. O tão falado modelo de funcionamento das gravadoras não é mais suficiente para dar conta de novos artistas que priorizem qualidade do que apelo comercial. E aqui não está se falando que uma coisa inibe a outra, mas sim que hoje a prioridade absoluta da grande indústria é que o artista tem que ter um enorme apelo comercial, só depois, se der, algum valor artístico ou estético.
A música da Canastra nem é difícil, pelo contrário, dançante, com referências não tão estranhas ao ouvido médio como rockabilly, country, swing, surf music e MPB, cai bem aos ouvidos facilmente. As letras bem sacadas, divertidas, inteligentes, fáceis de sair cantando, que junto com a melodias criativas, faz qualquer aprender na hora e sair cantando. Sim, é altamente pop, no melhor sentido da palavra.
O caminho encontrado por esta e tantas outras bandas é o mundo alternativo. Sem dúvida é um caminho sem garantias, mas qual é hoje em dia? A Canastra lançou ano passado o disco “Traz a Pessoa Amada em Três Dias” pelo selo goiano Monstro. O resultado foi um dos melhores trabalhos lançados no ano passado e mais uma das excelentes estréias que tem atingido o universo musical brasileiro. O mais difícil em não ter uma gravadora grande é o suporte que ela oferece. Marketing, distribuição, acesso a mídias, assessorias… Logo, mais facilidade da banda se tornar conhecida. O lado ruim é que nem sempre elas sabem trabalhar e como disse mais acima, a prioridade atualmente é outra e voltada para prováveis sucessos imediatos.
O show da última quinta-feira (20/10) no Circo Voador deve ter sido apenas mais um dos sensacionais que a banda se acostumou a fazer no Rio de Janeiro, mas é aquilo, você pode estar cansado, sem vontade, desanimado e de mau humor. Vai ser difícil resistir. Você pode controlar o cérebro, as mãos, até a cintura, mas é impossível segurar os pés e de repente lá estão eles se balançando sem nem você notar.
No palco, a formação da banda remete as big bands norte-americanas, evidente que passa longe do número de músicos em cena, mas o som que eles fazem tem origem dali, da beira do Mississipi. Renatinho (ex-Acabou la Tequila) é o que costumam chamar de líder, responsável pela imensa maioria das composições é ele quem conduz o show cantando no jeito carioca não malandro, mas esperto, malicioso e com um humor bem peculiar. O riso e a felicidade em ver um cara desses no palco é contagante. Um cara que deveria estar ao lado de alguns outros no país como figuras imortais e que não deveriam ter dificuldades em viver de sua música.
Edu Vilamaior (A Grande Trepada) no contrabaixo acústico e agora cantando algumas músicas também. Parece que as vezes nem estar tocando seu instrumento, tão é a intimidade e a forma ocmo se esbalda em cima do palco, se jogando, pulando e se divertindo como numa festa infantil. Bruno Levy na guitarra e trumpete é o lado mais sério e músico (não quer o resto não tenham uma extrema compoetência), com sua guitarra a la Brian Setzer (com dadinhos e frase em homenagem a Elvis escrita no case). O excelente Marcelo Callado na bateria dá todo o gás para garantir a festa. ALém deles a banda se complementa com dois músicos no sopro, um chamer que garante o espírito big band (e quando não tocam ainda ficam jogando cartas no palco).
A Canastra, com todo esse time de altíssimo nível, desfila um repertório próprio que transforma o Circo Voador por alguns momentos num salão dançante da década de 20. Um baile regado a swing, mas temperado, como já disse, com surf music, country, rockabilly e até uns sambinhas de antigamente. Sem perder o rimto de festa passeiam por essas sonoridades, especialmente em música como “Eu Te disse”, “Diabo Apaixonado”, “Meu cappucino” e “Nuvem Negra”, do primeiro disco, além de músicas novas que mantém o piquee das das homenagens da oite. Uma em homenagem ao presente Gabriwl Tomaz (Autoramas) e outra numa performance sensacional e insana de Nervoso cantando uma de suas músicas. No final das conta sum show estupendo da Canastra com seu som vintage que funcionaria tanto em festinhas pré-adolescentes, quanto em bailes da terceira idade. Pena que a maioria das pessoas nem faça idéia da existência. Azar de todos.

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