O Festival Ruídos do Sertão expandiu mais ainda suas fronteiras no território nacional com os shows do DR. SIN, Hibria e Torture Squad.
Por Fábio Agra
Era um pouco mais da meia noite quando o público ouviu os primeiros acordes de mais uma banda lendária a subir no palco do Festival Ruídos no Sertão, em Poções. DR. SIN era a quarta atração a se apresentar na primeira noite do evento que já se tornou um dos maiores e melhores da Bahia e um dos principais do Nordeste para o Rock/Metal.
Veja também:
– Festival Zons aposta na diversidade e recoloca Sergipe no mapa.
O Festival chega a sua terceira edição com o mesmo vigor da anterior e tomando proporções maiores com bandas de outras regiões do país. O Sudeste, Sul, Nordeste e também Argentina trouxeram todo o barulho do Heavy Metal para o interior da Bahia neste fim de semana. Na primeira noite (sábado) os ecos do metal se firmaram no sertão com o peso das bandas Storm (Camaçari), Escarnium (Salvador), Encoffined (Argentina), DR. SIN (SP), Farscape (RJ) e Grey Wolf (MG). No domingo Trepanator (Salvador), Metalizer (SP), Hellway Train (MG), a gaúcha Hibria e Torture Squad (SP) fecharam o line up.
Em uma área com capacidade para pouco mais de 2,500 mil pessoas, o público ficou um pouco aquém do esperado. A média foi de 600 pessoas por dia. Mas quem foi viu um primor em organização e profissionalismo da produção do evento. A estrutura do Festival contou com praça de alimentação, bar, stands de feira underground, com camisas, discos, chaveiros e botons sendo vendidos. Lixo na pista era quase zero ou imperceptível. O trabalho de uma cooperativa de catadores de lixo e a educação do público em não jogar latas de cerveja no chão, por exemplo, deixaram o ambiente muito mais agradável para se transitar. Por último, a maioria das bandas subiu ao palco sem atraso, seguindo os horários do evento, com exceção do Hibria na última noite. Mas, a espera para ver os gaúchos tocarem foi válida.
O Festival Ruídos no Sertão se consolida de vez como rota do Rock/Metal no Nordeste para importantes bandas de outras partes do país e, agora, também com nossos vizinhos da América Latina. Os argentinos da Encoffined, que precederam o show do DR. SIN, trouxeram sua pegada de Death Metal e levaram para casa o fervor do Festival.
Em turnê pela primeira vez no Brasil, passando pelo Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, o que sobrou da banda pós-apresentação foi agradecimentos e comparações entre o underground brasileiro/argentino e até europeu.
“A magnitude do evento é muito profissional. O trato das pessoas que trabalham na organização é praticamente igual aos grandes do estilo na Europa. Congratular o Ruídos no Sertão e estamos muito felizes por estar aqui”, enalteceu, Leandro, frontman da banda.
“Na Argentina a gente tem muito que aprender com o que foi aqui hoje, pela organização do evento” afirmou o baixista Ezequiel. “A Argentina tem alguns festivais, mas não são somente do Heavy Metal. Tem festivais grandes, mas mais comerciais. Não tem muito lugar para bandas underground. Esperamos voltar ao Brasil”, completou, Leandro.
Enquanto o Enconffined concedia entrevista coletiva, o DR. SIN se preparava para subir ao palco. O show do trio paulistano, em turnê de despedida, foi uma viagem pelos 22 anos de carreira. Com quase duas horas de apresentação, os clássicos entraram no repertório. Um dos pontos alto do show foi a música Fire (do disco Brutal, de 1995), com uma linda e longa introdução do guitarrista Eduardo Ardanury.
A cada música anunciada pelos irmãos Busic como a próxima a ser tocada, o clímax de receber mais um dinossauro do Rock no Festival se misturava aos últimos rastros que o trio paulistano deixava na Bahia. O DR. SIN já anunciou que encerra suas atividades com esta turnê do disco Intactus (2013) em março deste ano.
O show se encaminhou para o final com o pedacinho de We Will Rock You (Queen), Have you Ever Seen the Rain (Creendence Clearwater Revival), Metamorfose Ambulante (Raul Seixas) e terminou com um Futebol, Mulher e Rock and Roll.
Dr. SIN deixou o palco com as músicas na garganta do público, que ecoou cada canção. “É sempre uma honra a gente ser chamado para lugares que são longe da nossa casa e ter essa recepção, principalmente do público. Isso é emocionante você olhar as bocas e estar todo mundo cantando a tua música, isso não tem preço”, disse o baterista Ivan Busic.
Para o Andria Busic, o surgimento de um Festival como o Ruídos já não é surpresa no cenário do Norte/Nordeste, lugares que eles sempre gostaram de tocar. “Uma coisa que a gente já sabia é que o Norte/Nordeste é muito forte no Rock and Roll. A gente curte muito tocar em festival. E com essa galera aqui é especial. Muito feliz em tocar no Ruídos”.
Hibria e Torture Squad foram as bandas que encerram o Festival, respectivamente. A banda gaúcha, Hibria, com uma longa história no Heavy Metal, DVD gravado no Japão e turnês pela Europa e América Latina, fez um dos melhores shows do Ruídos, para muitos o melhor.
O público não ficou parado sob a presença de palco marcante do cantor Iuri Sanson e o perfeccionismo de toda a banda. As guitarras de Abel Camargo e Renato Osório se duelavam e se harmonizavam com os arranjos do baixo de Benhur Lima e o peso da bateria de Eduardo Baldo.
“Chegar aqui e ver 500, 600 pessoas gritando o nome do Hibria e cantando os nossos refrões, batendo cabeça, pulando, não tem explicação, cara. É muita emoção”, exalta, Iuri. Por fim, o potente vocal de Mayara Puertas, do Torture Squad, deu a nota final do Ruídos no Sertão para um público sedento por mais Rock.
A terceira edição do Ruídos no Sertão colocou de vez o Festival no rol dos principais eventos do Rock/Metal do Nordeste. Após ter em 2015 bandas praticamente da Bahia, que figuraram como coadjuvantes diante da presença da lendas do Heavy Metal mundial, o Metal Singers (grupo formado por Blaze Bayle, Mike Vescera, Tim Ripper e Udo Dirkschneider), neste ano o Festival expandiu mais ainda suas fronteiras no território nacional. Os Ruídos já estão ecoando por todo o Brasil e Américas.