A nova música baiana segue ganhando terreno na Bahia e desbravando territórios fora dela, pelo Brasil e no exterior. Alguns artistas dessa cena já incluíram em suas agendas turnês e shows frequentes em outros estados e até fora do país. Os exemplos mais consistentes são dois dos nomes mais relevantes da atual safra, Baiana System e Orkestra Rumpilezz, ambas com shows no exterior marcados para os próximos meses. Tem acontecido também projetos que reúnem diversos nomes em espécies de festivais da música baiana, como o Invasão Baiana que em abril realiza a segunda ,edição em São Paulo.
O projeto, realizado pelo Centro Cultural Banco do Brasil, que teve sua primeira edição em fevereiro, em Brasília, com oito artistas baianos, vai agora para São Paulo, com dois dias de shows em abril. Na capital paulista, nomes baianos que vivem por lá, como Maglore, Vivendo do Ócio, Tom Zé e Marcia Castro, se juntam a nomes que residem em Salvador, Dubstereo, Orkestra Rumpilezz e Baiana System, dividindo o palco com Pepeu Gomes, fazendo um bom apanhado do que melhor anda sendo produzido da música baiana. O evento será realizado dias 20 e 21 de abril, em plena Semana Santa, no Vale do Anhangabaú, na capital paulista.
Logo depois do show no evento paulista, o Baiana System viaja para os Estados Unidos, onde será atração do festival New Orleans Jazz and Heritage Festival, em New Orleans. O festival, que acontece de 25 a 27 de abril e de 1 a 4 de maio, tem em sua programação nomes de peso como Eric Clapton, Arcade Fire, Bruce Springsteen, Santana, Vampire Weekend e Public Enemy. Além do grupo baiano, que se apresenta nos dias 25 e 26 de abril, o Brasil será representado também pelos baianos do bloco afro Os Negões e pelo Ginga Mundo Capoeira, além do Afoxé Omo Nile Ogunjá, de Pernambuco, e o Tizumba & Tambor Mineiro, de Minas Gerais. Nos últimos anos, o Baiana System tem levado sua música para lugares como Sibéria, Japão e França.
A Orkestra Rumpilezz parte em junho para uma nova turnê européia. O grupo faz cinco apresentações em três países, Suíça, Holanda e Alemanha. Um dos shows será no Moers Festival, que acontece de 6 a 9 de junho, na Alemanha. O evento terá nomes como The Sun Ra Arkestra e Ricky Ticky Big Band.
Além do Baiana e da Rumpilezz, outros nomes já têm criado bases no exterior. Os grupos OQuadro e Os Nelsons, por exemplo, foram duas vezes para Londres participar do Bass Culture Clash. O cantor e compositor Lucas Santtana vem fazendo turnês anuais passando por diversos países do Velho Continente. A cantora e sanfoneira Lívia Mattos também fez turnê se apresentando em países europeus.
Projeto leva música baiana ao exterior
Parte destas conquistas são fruto do projeto Bahia Music Export, da Secretaria de Cultura da Bahia, que desenvolve diversas ações visando potencializar a produção musical baiana no exterior e aumentar a sua exportação. Vai desde o estímulo a capacitação e pesquisa, passando pela produção de material promocional até a ajuda para participação em feiras, festivais internacionais e residências de criação e promoção de turnês e intercâmbio musical. “Nossa ideia é mostrar as muitas faces da música na Bahia e colocar em evidência artistas e grupos que ainda não têm um reconhecimento e uma circulação abrangentes”, diz o secretário de cultura, Albino Rubim, sobre o projeto.
Entre as principais ações, o Bahia Music Export lançou cinco edições de uma coletânea com diversos artistas da produção musical baiana. O dois últimos volumes foram lançados em 2013 e distribuídos inicialmente em outubro na WOMEX – World Music Expo, uma das principais feiras de negócios e oportunidades do mercado da música internacional. O público alvo são produtores, radialistas, jornalistas, empresários, selos, programadores de festivais internacionais e demais agentes do mercado mundial. Nestes volumes, estiveram presentes artistas diversos, desde sonoridades mais tradicionais de grupos como Samba Chula de São Braz e Sertanília até mais modernas como o que fazem os grupos A.MA.SSA, Bemba Trio e a própria Baiana System.
A música baiana atual tem participado de outras coletâneas e produções internacionais. Em 2010, o selo inglês Mais Um Discos, voltado para a música brasileira contemporânea, lançou a coletânea Oi! A Nova Musica Brasileira!, que reunia 40 faixas de vários artistas brasileiros. Da Bahia estavam presentes Lucas Santtana, Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta e Baiana System. O selo está organizando uma nova coletânea e abriu inscrições para artistas brasileiros interessados. O prazo vai até o dia 20 de março. Saiba mais aqui.
Outro projeto, chamado de Sounds and Colours Brazil, inclui um livro falando sobre a produção cultural brasileira, com destaque para a música, e uma coletânea com 20 faixas com artistas de todo Brasil e que inclui músicas de dois grupos baianos, O Quadro e Os Nelsons. No livro são abordados diversos temas, cenas específicas e produção musical de alguns estados e cidades. Um dos destaques é a cena Salvador, com texto da jornalista inglesa Jody Gillett, que aborda especialmente a influência negra e os sons de grave da atual música baiana. Mesmo no jornalismo musical nacional e mesmo baiano, poucas vezes se fez um panorama desta produção com um olhar tão atento.
Pelo Brasil
Recentemente outros nomes andaram circulando em shows pelo Brasil. Além do projeto Invasão Baiana em Brasília, aconteceram diversas apresentações. O Opanijé esteve na Semana do Hip Hop, enquanto a Radiola dividiu o palco com Tom Zé, no encerramento do Festival Clipes e Bandas, todos no último dia 16 de março, em São Paulo. A cantora Soraia Drummond também tem levado sua música para fora do estado. Ela,que já esteve em cidades como Belém, Fortaleza, São Paulo e representou a Bahia no Festival Espírito Mundo em diversos países europeus, agora vai participar em maio do Rio Preto Gaya Festival, com diversos nomes do reggae nacional.
Mesmo ainda longe da devida atenção da mídia, vários artistas dessa nova música baiana começam aos poucos a chamar atenção. Aqui e ali, timidamente, ganham destaque em matérias de jornais, sites e revistas e aparecem em premiações, com é o caso da pré-seleção do 25º Prêmio da Música Brasileira, que já incluiu na edição deste ano nomes como Opanijé e Soraia Drummond. Rica, fértil e criativa, essa nova produção tem mudado a cara da música baiana e a sensação é que é só o começo de tudo.