Dentro do especial sobre a banda Úteros em Fúria, ouvimos personalidades e personagens sobre a história e a importância do grupo baiano.
A Úteros em Fúria marcou a vida de muita gente, sendo para muitos o ponto de virada. De acreditar que dava para fazer rock nessa terra de todos os santos, ou mesmo que existia bom rock sendo feito por aqui. Para muitos a banda fez virar a chave, a partir dela muita gente decidiu encarar aquele mundo e criou a própria banda. Reunimos alguns desses personagens, músicos, artistas famosos, produtores, e gente do público que deu declarações falando do que viram e viveram na história do grupo. Falam qual a importância da Úteros em Fúria, para eles e para o rock baiano:
Especial Úteros em Fúria:
– Especial Úteros em Fúria – Uma banda histórica
– Wombs in Rage – Discos clássicos do rock baiano
– Documentários que você só vai ver na web – Úteros em Fúria – Uma videografia
– Clipe, homenagens e imagens raras da Úteros em Fúria
“O fato de eles mostrarem que dava pra montar banda de rock em Salvador, e gravar disco, e ter público e ser foda. rsrs”
Pitty – cantora
“A Úteros foi a banda que redefiniu padrões na música que se fazia em Salvador. Eles chegaram com um som que estava em consonância com o contexto mundial, mas também com uma “marra” própria daqui. Os shows eram extremamente empolgantes, com muita energia e eram participativos também. Eles levaram a questão de fazer rock ao limite e isso foi combustível para quem já estava atuando no cenário, que era o meu caso, e para quem estava chegando e sonhando em tocar rock na Bahia. Havia o lance de serem amigos que cresceram juntos – eu só fui entender essa química depois, quando me tornei próximo deles. Eles apontaram caminhos e aprontaram muito! Hahahaha! Congregavam punks, metal, roqueiros mais velhos, pessoal que curtia Smiths… Por meio de sua atitude, rejuvenesceram a platéia, trouxe um público feminino fiel pro Rock (o que era bem raro em Salvador). São, para mim, a banda mais significativa da minha geração.”
Fábio Cascadura – cantor e compositor
“Foi o primeiro show de rock que fui em salvador que tinha mulheres..”
Rogério Big Bross – produtor
“Conheci a Úteros em Fúria através de um grande amigo: Mário Jorge. Ele entrou pra Úteros e nós, os amigos de bola, começamos a acompanhar o crescimento da banda. O interessante desse início, e que pra mim explica bastante o sucesso da banda, é que quando Mário mostrou as primeiras músicas da Úteros para os amigos, os jovens “roqueiros” e os não roqueiros viciaram naquele som. Ou seja, os caras quebravam a barreira, saiam do gueto. E não parou por aí, mais uma surpresa: as meninas adoraram. Hoje parece estranho fazer essa distinção, mas nessa época quase nenhuma banda atraia os ouvidos das garotas. A mágica estava feita. Os shows estavam cheios, animados e com gente que não era necessariamente do rock. E dá-lhe performances insanas de Maurão, uma cozinha segurando as pontas com Apu, um dos guitarristas da banda e deixando a frente o seu líder natural, o grande Emerson Borel. Ele parecia sempre tímido, quieto, mas no palco jogava a guitarra na cara da gente, mostrando que aquele instrumento fazia parte dele, da vida dele. Tive pouco contato com Borel, mas sempre foram momentos de muito papo e com muito humor. A Úteros chegou onde todas as bandas almejavam na época: clipe na MTV, disco saindo por uma gravadora. No caso deles a pequena Natascha records, numa época que o rock baiano não tinha nenhum representante rompendo essa barreira- que, diga-se de passagem, na década de oitenta teve somente e com grande popularidade o Camisa de Vênus. O disco Wombs in Rage- sim, eles tinham também ótimo humor- era uma coleção de referências aos grupos de hard rock dos 70, mas temperada com boas canções, muita vontade e uma esperta e verdadeira ligação com o som da época- o funk metal”Ronei Jorge – cantor e compositor
“A Úteros foi a banda com a maior energia de palco que eu pude ver. Não era só uma banda, era o carnaval do rock! Nos divertíamos muito com eles. Sorte de quem, assim como eu, viu quase todos os shows daquela época. Eles foram importantes por essa atitude de palco e de ter sido pioneira no funk-metal aqui em salvador. O rock 80 era engessado, ai veio a Úteros com aquela pulsação do Red Hot, Faith no More… bandas que ainda não eram populares por aqui. E, foi a primeira banda de rock de salvador a levar mulheres para os seus shows! rs”
Luisão Pereira – músico e produtor
“A banda Úteros em Fúria foi a banda de Rock Baiano que mais me impactou em cima de um palco. Repertório, arranjos, comportamento, som, etc. Rock & Roll na veia. Salve ÚTEROS !”
Nestor Madrid – produtor
“Não acompanhava o rock feito na Bahia. Não ia a shows na verdade. Não me interessava. Achava que havia algo de pretensioso, “forçado” e, no fundo, derivativo demais para meu gosto. Eu estava errado, hoje percebo, mas agora é tarde. Bom…Não lembro quem, nem exatamente quando. Mas alguém conseguiu me arrastar para um show da Úteros em Fúria. Eu tinha uns 20 ou 21 anos. Bom…o que eu vi e ouvi foi algo que eu não esperava realmente por aqui. Groove, hedonismo, “bagunça”, Red Hot, Stones, Guns ´N´ Roses (então no auge), ferocidade, a trindade maldita enfim (sexo, drogas e rock ´n´ roll) reunida finalmente em uma banda soteropolitana. Eles não queriam mudar o mundo, nem o país, nem o quarto dos fundos, na verdade. Era diversão, esbórnia e celebração. Música e celebração. Naquele momento foi o que me trouxe finalmente para a Bahia. Junto com Dr. Cascadura, Dead Billies e brincando de deus, foram salvação para os fãs de rock naqueles tempos. Por que foram tão importantes? Foram nossos Stones, Guns, Red Hot Chilli Peppers e…sim, por que não, Bon Jovi, tudo ao mesmo tempo. Não havia algo assim antes por aqui. Nem sei se houve depois.”
Sérgio Martinez – gente que viu a banda como público
“Fantástica! Ducaraiô!!! Gosto muito da Úteros em Fúria. Os caras brocavam. Mauro detonava com aquelas performances loucas dele… Acrescentou demais na música da Bahia… Muitas vezes ia pro show deles pra fazer algumas fotos e quando revelava o filme, a maioria das fotos estavam meio borradas, ai percebia que curti mais o show do que fotografei”
Dadá Jaques – músico que integrou a banda Treblinka
“Foi a primeira banda que me tirou de casa pra ir ver e gostar do que viu e ouviu ao vivo. Antes tinha, assim como meu irmão, e talvez por influência dele que é mais velho, um certo ranço/preconceito com as bandas locais e ver e ouvir a energia que a Úteros colocava no palco era realmente convidativo pra caralho. Além disso tinha Emerson Borel, principal guitarrista e compositor da banda que era meu amigo pessoal e me ensinou riffs e escalas nas nossas andanças em Ipitanga. Os caras eram rock n roll pra porra, som e way of life…isso me cativou, e sou um pouco disso graças a eles.”
Cândido Martínez – guitarrista que substitui Emerson Borel nessa formação de retorno, tocou no Cascadura e hoje está na Theatro de Séraphin
“Creio que vi os caras em 1993…foi a primeira banda de rock baiano que vi um vocalista solo me chamar a atenção, não só pela grande voz de Maurão, mas pela performance, aquilo me deixou impressionado…me influenciou pacas…e claro os caras tinham boas canções também e toda banda era performática…fora que os shows do caras sempre lotavam, era legal pra pogar, eu tinha 14 anos, cheio de energia, e louco pra agitar num som de rock…eu gostava muito de pogar do começo ao fim de um show e no som dos caras isso era sempre possível… Maurão foi o 1o vocalista solo de rock que me influenciou nessa cidade…”
Rodrigo “Sputter” Chagas – vocalista da The Honkers
“Comecei no rock antes da Úteros surgir, mas aqui, na Bahia de todos os ritmos ruins, sempre passamos por períodos difíceis e pouco férteis. Justo ai que entra a Úteros, vindo de um período de vacas magras. Quando tomei conhecimento deles logo percebi a força daquela galera, que chegava derrubando barreiras e trazendo um publico novo e avido pro rock baiano. Foi forte e durou pouco, mas acredito deixou uma forte marca na cena. O resto é historia, creia.”
Tony Lopes – músico que tocou em bandas e projetos como Guerra fria, Dissidentes, tara code, Koiotes, e hoje está à frente da Reverendo T & os Discipulos Descrentes e Tony e os Sobreviventes.
“Foi o primeiro show de rock que vi na vida, o que eles abriram pros Raimundos. Até entao eu nem sabia que tinha banda de rock em salvador naquele nivel! Acho q eu tinha 13 pra 14 anos”
Zeca Forehead – publicitário, ilustrador e gente que viu a banda como público
“Na verdade a Úteros é uma banda que só fui entender a real importância dela depois, porque como sou mais velho que a geração da Úteros, comecei a ouvir rock feito aqui na década de 70 (Mar Revolto no Vila Velha, os shows de Raul na Concha e os shows de musica experimental no Icba). Fui impactado pela geração do Camisa (Gonoreia, Delirium Tremens, 14° Andar) nos anos 80 e depois da saída de Marcelo Nova da Bahia, não prestei atenção no que veio depois, que foi a Úteros. Quem me chamou atenção pra Úteros foi a galera que foi influenciada por eles (quase todos, menos o glorioso Messias), a influência da Úteros foi enorme, e assim como Raul nos 70, o Camisa/Marcelo nos 80 foram os grandes inspiradores da cena local dos 90.”
Osvaldo Silveira Jr. o Brahminha – empresário e gente que viu a banda como público.