Entrevistas polêmicas, opiniões fortes, provocações, bolas fora, falas certeiras, broncas, bobagens, recalques, discussões. Resumimos algumas das principais declarações dadas no mundo da música no segundo semestre de 2013 (veja aqui o que falaram no primeiro semestre). Músicos, produtores, artistas, jornalistas soltam o verbo em entrevistas, em shows e onde tiveram oportunidade. Concordando ou não, eles dão a deixa e fazem a gente pensar um pouco mais no mundo da música que nos cerca.
“Há algo realmente especial acontecendo que os brasileiros realmente deveriam se orgulhar. Esqueça Caetano, João Gilberto e Milton: a nova geração está ai e ela é tão boa!”
Russell Slater, autor do site e livro sobre a cultura brasileira Sounds and Colours em entrevista ao Scream & Yell
“Eu acho a minha geração extremamente competente. Já são muitos discos bons, muitas músicas boas, não vou entrar no mérito de comparar gerações, acho isso uma perda de tempo. O que afirmo é que tenho orgulho da geração que pertenço. Fora isso somos um acúmulo do tempo em todos os sentidos. Então, eu trago o passado e a tradição comigo. Assim como serei parte da tradição pra gerações que me sucederão. E acho bom a gente ser apenas um pedacinho desse tempo cronológico.”
Lucas Santtana, em entrevista ao blog Já Ouviu?
‘Hoje têm muito mais opções sonoras em Salvador do que quando eu era adolescente e morava lá. O Axé é o axé, não dá pra querer mais nada dali. Concordo com a Marcia (Castro), a cultura do Axé acachapou a vida cultural da cidade. Confundiram turismo com cultura. Mas as coisas estão voltando à tona.”
Lucas Santtana, em entrevista ao blog Já Ouviu?
“Olha, as rádios são um problema nacional. Se eu tivesse algum tipo de acesso a Dilma Roussef explicaria a ela a importância que é ter uma rádio pública forte. O quanto isso educa a população. Não só musicalmente. Quando você toca nessas rádios na Europa você percebe o quanto aquilo educou o ouvido da população. E entende que isso não se deu da noite para o dia. Foi um processo longo. Mas quando você pega um táxi e o taxista de 60 anos está ouvindo Björk sem achar aquilo estranho, você percebe o quanto é importante uma rádio pública forte. E no nosso caso, a história da música brasileira é tão rica. Tanto a antiga quanto a atual. É uma pena mesmo.”
Lucas Santtana, em entrevista ao blog Já Ouviu?
“Porque não é mais a música que importa. as pessoas não querem mais saber da música em si, mas sim de quem faz a música. O público está mais interessado nas celebridades e em como determinado artista é famoso do que na música. Mudou a maneira como o público se relaciona com a música. Ele não tem mais uma ligação transcendental com a música e sua qualidade. Quer apenas o glamour. O Jazz não quer fazer parte disso. Sabe por quê? Não se trata mais de humildade, nem de arrogância, de uma postura “não queremos ser famosos, somos undergroud“. Nada disso. O Jazz é sobre a alma humana, não sobre a aparência. O Jazz tem valores, ensina a viver o momento, trabalhar em conjunto e, especialmente, a respeitar o próximo. Quando músicos se reúnem para tocar juntos, é preciso respeitar e entender o que o outro faz. O Jazz em particular é uma linguagem internacional que representa a liberdade, por causa de suas raízes na escravidão. O Jazz faz as pessoas se sentirem bem em relação a si mesmas.”
Herbie Hancock em entrevista à Revista Época
“Viver num mundo no qual as pessoas não compram mais tantos discos acaba sendo libertador. Isso dá uma perspectiva mais humana para o trabalho dos músicos.”
Moby, em entrevista ao Segundo Caderno de O Globo
“O que mudou é que não dá mais para viver de música. Antes, você fazia um disco, trabalhava pra cacete nele, gastava todo o seu dinheiro, fazia um bom disco, vendia e pagava o seu aluguel. Agora, você faz um disco, ele chega à internet na segunda-feira e na terça todo mundo já o está baixando de graça. Então é difícil para essas novas bandas ficarem motivadas a trabalhar com música, porque não dá mais pra viver”
Don Dokken, vocalista da banda de heavy metal Dokken em entrevista ao Portal Terra
“Eu posso ser só músico, mas eu só quero ser só músico se eu puder viver bem. Para ficar na penúria eu prefiro fazer outras coisas, tocar só aos finais de semana.”
Wado em entrevista ao site Scream & Yell
“Acho que eu nunca vou parar de tocar porque é um negócio que me acompanha há muito tempo, mas a vida taí, né? Não é você que escolhe ser artista, a vida é que escolhe. Tem que ter um pouco de determinação para você conseguir chegar aonde você quer, mas não se pode ficar batendo o nariz na parede toda hora achando que você é um injustiçado. O que você faz tem que ecoar nas outras pessoas, virar bilheteria, uma forma viável de ter uma vida feliz nessa profissão. Acho que eu estou feliz agora, as coisas estão bem. É apertado para qualquer um, viver no Brasil é… [As pessoas falam da] crise na Europa, mas vai viver no Brasil para ver! A gente está longe de estar no primeiro mundo!”
Wado em entrevista ao site Scream & Yell
“Por que a música está assim horrível? Porque as classes D e E subiram e trouxeram consigo uma música muito imatura, que acabou sendo comprada pela classe média. Faço parte de uma geração que está muda. As pessoas perguntam: “por que vocês não se posicionam em relação às manifestações?”. A gente não tem nem voz, cara! Eu me posiciono, faço músicas políticas, mas não tenho reverberação. Somos uma geração de compositores massacrada pelas circunstâncias de melhora do Brasil. Há prosperidade, mas há um desajuste: temos uma qualidade fantástica, e em número maior que as anteriores, mas isso não se reverte em número, não chega ao rádio. É uma coisa que o Maurício Bussab, responsável pela distribuidora Tratore, falou outro dia: a canção hoje passa por um processo similar ao da indústria do chapéu. Até os anos 1950, todo mundo usava chapéu. Hoje, ainda tem gente que usa chapéu, ou um boné, não dá para dizer que o chapéu acabou, mas quase. O tipo de canção que a gente faz, que não subestima a inteligência do público, está muito em segundo plano. É legal falar essas coisas de vez em quando, porque às vezes a gente fica muito naquela de “está tudo bem”. Não, não está tudo bem. Tem que melhorar muito. O justo seria se a gente fosse pop, se as pessoas conhecessem a gente: o Rômulo [Fróes], o Wado, o Curumin, o Camelo, o Cícero, o SILVA, a Tulipa. Nós éramos para ser os Lulu Santos de agora – e a gente continua buscando isso.”
Wado em entrevista ao site Scream & Yell
“As bandas novas gastam pouco tempo no estúdio produzindo um projeto e muito tempo divulgando. Acho que as bandas deveriam gostar mais de estúdio, de produzir e elaborar mais o produto antes de sair com ele pela estrada.”
Henrique Portugal, tecladista do Skank em entrevista ao site Bahia Notícias
“Por que Biquini Cavadão é rock e Nelson Cavaquinho não? Por que Kid Abelha é rock e o Biu Roque (rock até no nome) não é? O gênero é a prisão da música. No momento que você tem que obedecer regras pra seguir um modelo de gênero, esse próprio gênero acaba morrendo engessado. Com o rock não foi diferente. Isso somado ao furacão comercial que o rock potencializou em sua história, fez com que ele se transformasse no gênero mais careta e óbvio da face da terra. A única salvação pro rock é matar o rock.”
Kiko Dinucci falando em entrevista para o site Sirva-se sobre seu o projeto Metá Metá
“Nunca entendi por que não havia canções brasileiras no feminino escritas por mulheres. As poucas compositoras brasileiras de até então eram muito tímidas quanto a isso, as letras eram neutras. (…) “Houve até críticos que chegaram a pôr minha autoria em dúvida, dizendo que as músicas eram boas demais para terem sido feitas por uma mulher.”
Joyce entrevista exclusiva da cantora para Pedro Alexandre Sanches no site Farofafá
“Ainda somos uma banda sui generis no cenário nacional. Passado tanto tempo do lançamento dos nossos primeiros discos, eles continuam importante, envelheceram bem. Mas não acho possível localizar o Defalla no cenário musical brasileiro. Ela é simplesmente a banda mais foda que já existiu. Sem falsa modéstia, a gente está no mesmo nível que os Mutantes. Por tudo o que já fizemos, de experimentação, de abrir caminhos, eu sei o nosso valor. E por isso talvez essa volta seja tão importante, para reafirmar o nosso lugar na história da música.”
Edu K sobre sua banda Defalla em entrevista para o jornal Zero Hora
“Não sei como, mas eu já pensava e falava coisas referentes a internet numa época que não existia internet. Mas hoje eu vejo que na minha imaginação era mais legal. O que acontece é que quando a galera não tinha acesso, era menos preguiçosa. Havia um prazer e uma certa ingenuidade em ir atrás das coisas. Agora parece que falta tesão, tem informação demais e tá tudo ali o tempo todo. Tua baixa um HD inteiro de música e não ouve. Rola um cansaço, um tédio. Mas tudo é processo, uma hora as coisas mudam e surge outra coisa. O quê exatamente eu não sei, um hecatombe zumbi nuclear talvez.”
“As rádios não tem culpa sozinhas. Acho que a culpa é de todo mundo, é uma historia como a do ovo ou da galinha. A culpa é do mercado viciado, que cria uns estilos de artistas ruins, incompetentes e obedientes. Quanto mais estúpido (o artista), mais obediente. Isso é algo que a indústria descobriu muito cedo. Se você obervar artistas dos anos 60 como Ray Davies (The Kinks) ou Pete Townshend, eles não aceitavam que as pessoas lhe dissessem o que fazer. Se você chegar no Pete e disser ‘vai na radio tal, diga isso e aquilo, faça isso, toque aquilo’, ele vai te xingar todo. O Frank Zappa saiu de cena para entrar a Lady Gaga. São as carta do mercado. Isso sempre existiu, quando você olha na história da música isso sempre existiu. Elvis Presley, independente dos fãs e da sua qualidade como cantor, era um produto de gravadora. Tinha milhares de músicos decentes muito mais interessantes. Porra, só o Little Richard, só ele, já fecha. Por isso, as coisas dão menos certo para caras como Little Richard, que era 100% difícil, genioso. Elvis era bom moço, foi servir o exército, falava a coisa certa. Little Richard só fala miséria, mas canta pra caramba! Isso a gente vive com mais força nos últimos vinte, trinta anos ou mais. Não tem parãmetros. Os valores, os princípios de quem faz músicas e de quem as difunde hoje, são princípios muito diferentes do que eram há um tempo atras. É muito parecido com fast food. Aí você vai no restaurante de uma senhora que acorda as cinco da manha pra ir na feira e cozinha em fogão a lenha, é totalmente diferente. Essa senhora perdeu espaço para a comida congelada. E tem nego que ainda acha mais gostoso.”
Ed Motta em entrevista ao jornal A Tarde
“Somos nós que decidimos tudo. Sem nenhuma interferência, sem palpites, sem ouvir que o som está pesado demais, sem pedidos pra mudar a letra. Nada paga essa liberdade”.
Digão, vocalista e guitarrista da banda Raimundos, justificando a decisão de não trabalhar com gravadoras em entrevista ao site Vírgula
“Existe uma linha muito tênue entre você ser um vendido e acertar na veia. Eu acho que o Raimundos sempre viveu no limite. Nós enfrentamos as revolta dos fãs com o disco Só No Forevis, eles não gostaram. Há um monte de faixas pesadas no álbum, mas neguinho só vai olhar pra bunda que tem lá na capa. Eu ouvi muitas bandas nos criticando, e depois tiveram que passar pelo mesmo processo. Ficam arrotando arrogância e distorção, mas na hora que as portas do sucesso se abrem, são os primeiros a fazer playback e participar de programa de auditório. Isso é uma coisa do mercado, ninguém consegue fugir.”
Canisso, baixista do Raimundos, em entrevista ao site Vírgula
“Eu acho que as pessoas deveriam ser encorajadas a serem elas mesmas. Isso é o que me incomoda nesses programas onde elas são julgadas tão duramente por músicos de m… que não tocam quase nenhum instrumento em seus discos. Isso me irrita muito.”
Dave Grohl, líder do Foo Fighters em entrevista à revista britânica “NME” em março
“Desculpem, detesto ser negativo, mas ‘The Voice’ é o programa mais entediante, mais burro, mais deprimente da TV. É o insulto definitivo à música e aos artistas”
Brian May, guitarrista do Queen, em seu site.
“Tenho mais de 10 anos de experiência na área de Tecnologia da Informação, como especialidade o desenvolvimento de aplicações web. Atualmente, sou um entusiasta de Codeigniter, Backbone.js e Bootstrap. Antes de me tornar adulto, ou melhor, programador, fui vocalista e guitarrista da banda Moptop. Me diverti um bocado, mas sim o rock acabou.”
Gabriel Marques, ex-vocalista da banda MopTop em manifesto publicado em seu site.
“O britpop foi lançado pelo governo. Um dia vai ser interessante ler todos os arquivos do MI5 (serviço de segurança interna britânico) sobre o britpop. Atiraram areia para os olhos de toda a gente.”
Kevin Shields, líder do My Blood Valentine, em entrevista ao Guardian
“Eu me sinto lisonjeado em fazer parte da nata da música popular.”
Belo em entrevista ao site G1
“Tenho um iPod com um disco rígido gigante, mas neste ano comecei a comprar vinil novamente. O MP3 empobrece nossa relação com a música. Eu sento à frente do computador por boa parte da semana e, quando estou entediado, começo a baixar shows piratas, faixas únicas, coisas do iTunes. Pago sempre que posso, mas a maioria é de graça. Tenho centenas ou milhares de músicas que nunca escutei ou que só ouvi uma vez. Agora, se curto algo, compro em vinil e faço o favor de prestar atenção ao disco por 20 minutos.”
Nick Hornby falando sobre como escuta música hoje em entrevista à Folha de São Paulo
“Não sei exatamente porque é tão difícil fazer show no Brasil. Aliás, eu tenho uma ideia de que as panelinhas existem e sempre existiram. Eu não entendo essa mentalidade, desse favoritismo descarado por alguns artistas(…) Acho isso um absurdo porque eu tenho um público grande, que me acompanha há muito tempo. Eu não comecei ontem (…) É um paradoxo isso. Alguns artistas têm música na novela da Globo, mas não conseguem fazer show.”
A cantora Patricia Marx em entrevista ao G1
“Eu me arrisco um bocado. Estou numa fase em que eu preciso dizer as coisas porque não dá mais para continuar do jeito que está. Faço isso por todos os artistas que têm um trabalho de qualidade que não conseguem espaço, mas merecem. Tenho essa intenção de ajudar outras pessoas também, não só a mim.”
A cantora Patricia Marx em entrevista ao G1
“Castigo vem a cavalo, né? As gravadoras se acharam muito, deu nisso. Claro que eu lamento o mercado que havia e o que mercado que há, mas eu vejo essas mudanças como positivas; é hora de trabalhar a criatividade. Minha vida toda foi construída dentro da Sony, da CBS, da BMG, e hoje esses lugares estão cheios de gente que eu não respeito, que não entende nada de música. As gravadoras viraram grandes clubes de futebol, onde importa o empresário e não o craque. São uns boçais.”
Fagner ao comentar sobre gravadoras em entrevista ao jornal Folha de São Paulo
“Eu me envergo desse preconceito musical camuflado que faz com que pessoas medíocres neguem a música popular que fala de amor mas que nos “karaokês” da vida ela vire opção libertária sobe efeito alcoólico, chega dessa merda de achar que MPB é que presta e o “resto” é conversa”
Gaby Amarantos no facebook, desabafando na morte de Reginaldo Rossi
“No Brasil, festivais e empresas querem se associar a artistas consagrados. Já aqui [na Europa], inteligente é investir em gente promissora. (…) Aqui na Europa, faz mais de 20 anos que os políticos perceberam que música não é só passatempo, mas um movimento econômico, politico e social. Com políticas públicas e bons investidores, novas bandas, festivais e casas de shows se multiplicam. (…) Festival tem que ser descoberta. Essa gente tem 15, 20 anos de carreira. Não precisam de festival, podem lotar ‘shows solo’ durante o ano inteiro.”
Fernando Ladeiro-Marques, Diretor do MaMa-Paris, uma das maiores convenções do mundo sobre o mercado da música, em entrevista a Folha de São Paulo
“Tem rolado um clima estranho. A gente tem circulado bastante e em todo canto a queixa é a mesma: “Cara, ta foda pra tocar nesta cidade, não tem casa de show”. Isso é preocupante. Por outro lado tem vários festivais legais espalhado pelo Brasil e tem muitas bandas boas produzindo grandes discos. Eu não sei muito bem como julgar essa cena, eu posso dizer que tá bem esquisito e que tá cada vez pior conseguir shows com boas condições.”
Julio Andrade da The Baggios em entrevista ao blog Monkey Buzz
“Posso dizer que todos nós que estamos nesse palco somos velhos. Eu não sei qual o futuro. Você não deveria perguntar isso para mim, mas para os meninos de 16 ou 17 anos. Eles sabem qual o futuro. Eu vi o futuro na bossa nova porque eu tinha 24 anos. É com esse tipo de gente que está a sua resposta.”
André Midani, na SIM, a Semana Internacional de Música de São Paulo, ao ser perguntado Qual o futuro do negócio da música?
“A internet é um experimento fascinante, mas no fundo é um estado de coisas muito triste para as novas bandas. Não haverá outro Beatles ou outro Prince ou outro Kiss porque não há um sistema de apoio, não há gravadoras porque as crianças decidiram que elas podem baixar e compartilhar arquivos e contornar o pagamento que os artistas deveriam estar recebendo. Elvis Presley, The Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, The Who e por aí vai. E nos anos 70 Aerosmith, Kiss, Led Zeppelin. Agora desde 1984, nomeie um superstar, e não alguém que tenha gravado apenas um ou dois discos. Um ou dois álbuns não são suficientes. Só porque você morreu isso faz de você um ícone? Não, não”
O baixista e líder da banda nova-iorquina Kiss, Gene Simmons, em entrevista a uma rádio digital falando sobre o atual momento da música pop e respondendo que artistas como Kurt Cobain, do Nirvana, e Amy Winehouse não podem ser considerados ícones da música pois um ou dois discos não seriam suficientes. (N.E.: Não lembra ele que só por exemplo as bandas Sex Pistols e Joy Division gravaram no máximo dois discos.)
“Tanto para os homens quanto para as mulheres, acho importante que uma artista como Lady Gaga esteja sempre se arriscando. Se não fosse por ela, a arte estaria morta.”
Yoko Ono em entrevista à revista Elle norte-americana
“Acho que é uma questão estrutural. Antes de dizer que a classe D e E melhorou economicamente, eu diria que a própria indústria vem se armando há décadas para esse cenário. O que interessa é o que vende mais, mais fácil, formulesco e descartável. O Luan Santana, que nem sei mais onde está hoje, é um exemplo disso.”
Alexandre Kumpinski, vocalista e guitarrista do Apanhador Só, em entrevista ao site Scream & Yell
“Sempre houve espaços. A diferença é saber quanto custa esse espaço e quem paga por ele. A existência da Anitta, do Michel Teló ou de quem for não me incomoda. Cada um faz o que acha que tem que fazer. O que me incomoda é o fato de que os espaços que existem e atingem essa classe D e E são justamente os espaços que pedem pedágio para ser utilizados. O que nos faz retornar à pergunta anterior: quem tem a grana? As empresas ou as gravadoras, e elas estão muito vinculadas.(…) O empresário de música não pensa em algo que tem uma proposta bacana. Ele pensa em investir e ter retorno o mais rápido o possível. Nisso, o refrão faz sentido: em dois toques ele cola na tua cabeça, e em dois toques ele já deu retorno para o empresário.”
Felipe Zancanaro, guitarrista do Apanhador Só, em entrevista ao site Scream & Yell
“O jabá existia antes? Sim, mas as coisas não eram tão organizadas. Em Porto Alegre, por exemplo, nós só conseguimos ser tocados na Ipanema, que é uma rádio livre, e na Cultura. E no Brasil inteiro é assim. Foi algo que ficou claro para nós numa reunião que tivemos com a Som Livre. Eles fazem um planejamento financeiro, e lá já tem o jabá – quer dizer… “verba de mídia de rádio”. É a mesma coisa. Há um esquema armado que custa X milhões para tocar nas rádios, ter um clipe que passe em todos os lugares e uma matéria no Fantástico. No nosso caso, talvez não seria o Fantástico, mas o Altas Horas ou algum programa similar. Todos os espaços viraram pagos. Se eles fossem livres, nós poderíamos ter muito mais público. Entretanto, para ter mais público do jeito que a coisa é hoje, nós teríamos que dar as mãos para um sistema podre, o mesmo sistema que não nos deixa ter mais público agora. Nós discutimos muito isso entre nós, e por isso que quisemos fazer o último disco por crowdfunding. É a diferença entre colocar o facão no mato e pegar a rodovia pavimentada e pagar um pedágio filho da puta.”
Alexandre Kumpinski, vocalista e guitarrista do Apanhador Só, em entrevista ao site Scream & Yell
“Duvido que o Tom Zé acredite que a Coca-Cola seja a bebida de todo mundo. Ninguém acredita nisso. Quer dizer: tem uma boa parte da população que consegue ser convencida disso, da mesma maneira que todo mundo acredita que a Skol é melhor que a Kaiser, sei lá. Mas sim, ele fez a propaganda por dinheiro. Mas fazer as coisas por dinheiro não é o princípio da crítica toda? Porque se não for, beleza, é cada um por si e capitalismo na veia! Para mim, o Tom Zé representa justamente o contrário. Fico triste quando leio que ele se sente valorizado pelas empresas. Gostaria muito mais que ele se sentisse valorizado pelo público dele, que é fiel e admira o seu trabalho. Começo a me sentir desconectado dele nesse momento. Mas, vá lá: ele precisava de dinheiro. Mas precisa fazer uma propaganda para a Coca-Cola? É a única possibilidade que ele tem? Se ele faz um crowdfunding, em uma semana ele levantaria facilmente os R$80 mil que ganhou da Coca-Cola. E tem outra coisa: ele já lançou um disco pela Natura, e a galera não é xiita de dizer: “qualquer empresa não!”. Ninguém reclamou do disco que ele lançou pela Natura. É algo complexo, porque apesar de ser a mesma coisa, é muito diferente quando você pensa com quem você está se envolvendo.”
Alexandre Kumpinski, vocalista e guitarrista do Apanhador Só, em entrevista ao site Scream & Yell
“Acho que esta turma não se preocupa em ser MPB, samba ou rock. Simplesmente é. E se pensar em música popular, não é popular! Popular é sertanejo universitário. E funk, que é a maior cena atual.”
Carlos Eduardo Miranda, em entrevista à Folha de São Paulo falando sobre os artistas da nova música brasileira, a chamada MPB contemporânea ou seja lá como queiram chamar.
“A MPB tradicional é o quê, hoje? Esta virou a MPB de barzinho. Jorge Vercillo, Seu Jorge, Ana Carolina e Maria Gadú acham que estão fazendo MPB, mas essa galera é filha do barzinho, de uma música diluída, ao contrário da galera da qual estamos falando, que é mais ligada na raiz.”
Carlos Eduardo Miranda, em entrevista à Folha de São Paulo falando sobre a MPB tradicional.
“A indústria vive hoje de um elemento único, básico e primordial: tudo tem a ver com o ato da reprodução. Ou é a MPB de barzinho, um lugar em que as pessoas vão para namorar, ou a música sertaneja, baseada no “vou pegar/ vou beijar”, ou estas bandas de molequinho tipo NXZero, que faz música para a molecada aprender a “fazer filhinho”.
Carlos Eduardo Miranda, em entrevista à Folha de São Paulo falando sobre a indústria fonográfica.
“Eles têm discos legais, mas o padrão ainda é muito independente. É preciso que aprendam a se traduzir melhor para o grande público, e isto implica em produzir melhor sua música. Mas o momento é de maturação, o povo vai se acostumando com uma linguagem diferente e a arte vai encontrando uma linguagem mais próxima do povo. Uma hora os dois se encontram.”
Carlos Eduardo Miranda, em entrevista à Folha de São Paulo falando dos artistas do cenário independente brasileiro.
“Compor é curioso, é uma combinação de experiências reais e imaginadas, e de observações de experiências de outras pessoas. Entram tantas coisas! Compor é como alguém bater na sua porta, as canções caem do céu e você pode abrir a porta e deixá-las entrar. Eu escrevo música, ouço música, leio sobre música, é tudo em minha vida. As ideias vem e… (hesita)… e de repente é uma canção. E eu nunca sei muito bem como (essas ideias) terminam sendo uma canção. Mais tarde no processo, tenho que trabalhar, refinar as palavras e criar a estrutura para a canção que vocês terminam ouvindo. Então tem um trabalho de artesão e tem a ideia original, a inspiração, e você nunca sabe se essa última é real, ou se é algo que você já ouviu. Eu… (gagueja) eu entendo completamente, mas não sei por que acontece. Se é que algo do que disse faz sentido (risos).”
Bob Mould em entrevista para o Scream & Yell
“Não podemos esquecer que construímos uma grande história na música brasileira.”
Bell Marques, do Chiclete com Banana, em vídeo em que anunciou sua saída da banda
“Nos anos 90 nós empurramos uma porta que estava entreaberta deixada por rockers de uma geração anterior e pegamos uma cidade em meio ao boom da Axé music. Fizemos muita zoada sem apoio de empresários e grande mídia. O público era sedento por informação e por bandas autorais. Hoje em dia a maioria das pessoas preferem sair de suas casas pra assistirem bandas covers. O cenário musical da cidade continua o mesmo ou até pior. O melhor caminho ainda continua sendo o que leva ao aeroporto, apesar do engarrafamento constante. Acho tudo muito grotesco e engraçado nesse circo de horrores!”
Mauro Pithon, vocalista da banda Úteros em Fúria, em entrevista ao blog Rock Loco
“Acho que estamos (vivendo) num cenário estranho. Ao mesmo tempo em que temos muita gente se mexendo e produzindo algumas coisas com muita qualidade, não transformamos isso em carreira, capitalistamente falando. Acho que pra muita gente falta o capital inicial pra dar um start. Pagar uma assessoria de imprensa, circular, construir público, tudo isso custa dinheiro, custo que era antigamente bancado pelas gravadoras. Hoje temos os editais, que não vejo com maus olhos, mas prefiro não entrar nessa. Se é pra ser independente, sou completamente independente. Também sinto falta de um veículo, algum lugar que lance artistas independentes, novos. Algo tipo a Fluminense FM, o Cassino do Chacrinha, algum lugar que consiga alcançar um grande público, popular mesmo. Se tivéssemos esse lugar e artistas com grandes canções como, por exemplo, Jair Naves, a coisa caminharia.”
André Mendes respondendo a pergunta sobre o cenário musical em Salvador e no Brasil e as expectativas em relação a musica no site Scream & Yell
“Ainda que haja uma ebulição interna, ela ainda não conjuminou na música brasileira em seu total esplendor, mas as coisas estão acontecendo. Há vários grupos novos, vários intérpretes, várias músicas com concepções diferentes. O leque da música brasileira está totalmente aberto. Cabe tudo, desde que o brasileiro o faça com a linguagem própria do brasileiro, podendo ser rap, funk, samba, valsa, bolero, o diabo que for, como sempre foi na nossa música. O Brasil sempre esteve aberto a todo material musical e sempre o reinterpreta. Aí reside toda nossa genialidade. É dessa maneira que vejo este atual panorama. Não vou indicar grupos específicos, mas eu trabalho com essa moçada nova que está buscando concepções originais da música e produzindo um trabalho realmente muito bonito.”
Jards Macalé falando sobre a atual fase da música brasileira em entrevista ao site Farofafá
“Direitos autorais é uma grana preta. E no Brasil, o Ecad se constituiu dessas sociedades, e aos poucos as próprias sociedades dos autores foram revindicando uma maior distribuição. Para arrecadar é fácil, distribuir é que é difícil. Não tem fiscalização possível por enquanto. Eu acho que o Ecad não pode terminar. Esse negócio de que o Ministério da Cultura deve administrar direitos autorais, nesse nível, é uma piada. O Ministério da Cultura nem consegue administrar a si próprio, quanto mais a um universo tão complexo. Não dá. Desde o início da discussão eu dizia questão autoral no Brasil é caso do Ministério da Justiça. E, se vacilar, é uma questão de polícia! Enquanto não provem o contrário, é roubo! Se esse grupo encabeçado pela Paula Lavigne desejar a melhor distribuição para todos, ele tem todo meu aval. Se interessar apenas a uma determinada classe musical, a luta sempre vai continuar.”
Jards Macalé falando sobre as mudanças no ECAD em entrevista ao site Farofafá
“Eu devia ter morrido mil vezes. Estar vivo é a porra de um milagre biológico”
Ozzy Osbourne no documentário God Bless Ozzy Osbourne
“Essa é a verdade. Observe a história. Os Beatles vão para os Estados Unidos, um ano depois eles também vão. Escrevemos o primeiro single deles, ‘I wanna be your man’. Entramos na psicodelia, eles também entraram. Nos vestimos como feiticeiros, e eles também.”
Paul McCartney, em entrevista à US Radio, declarando que o Rolling Stones só fizeram sucesso porque copiaram os Beatles.
“O mangue começou com festas. Demorou um tempo até que chegarmos ao know-how de produção de shows (de fato, antes das bandas assinarem com gravadoras, agentes e empresários, funcionávamos como coletivo). As festas tinha um caráter aglutinador de gente que gostava de musica, daí a razão por tantas bandas terem surgidos entre pessoas que se conheciam naquele ambiente. As festas que acontecem hoje na cidade não priorizam a música e o DJ é mais um cara apertando o botão play para tocar tracks conhecidos do que um artista preocupado em estabelecer novos paradigmas e abrir horizontes. Ao invés de educar o público, fortalece a mesmice. Lamento bastante que as coisas tenham tomado essa direção.”
DJ Dolores em entrevista para a Revista O Grito
“Eu sempre penso sobre atletas profissionais, cujas carreiras acabam depois dos 30 anos de idade. E depois disso? Muito disso não termina bem. Eu não quero que isso aconteça. Dinheiro não é tudo para a felicidade. As pessoas já me disseram coisas que eu acho malucas como, “Você tem inveja de Kurt Cobain, que ficou famoso e rico?” E eu falo, “O Kurt Cobain está morto. Você está brincando? Do que você está falando? Você acha que eu trocaria de lugar com um cara morto?” Sim, claro, eu gostaria de ter sido mais famoso, ter sido mais rico e morrido. Não, não, não. Eu venci. Eu venci. Ele não venceu. Ele perdeu. Ele é um perdedor dos grandes. Sua grande perda. Ele deixou um bebê à mercê daquela mulher. E, não poderia ser pior. Não há nada de bom nisso.”
Buzz Osborne, líder do Melvins, em entrevista para o site Consequence Of Sound
“Eu tinha 32 anos, se não trepasse, não dormia. Aquilo tudo era verdade. Não se permitia expor a sexualidade, mas como ia segurar isso? A censura começou a pegar no meu pé, a classificação do show foi subindo. Quando chegou a 18 anos, eu segurava meu pau com a mão, olhando sério para o povo, sem um sorriso. Eu não estava de gracinha, estava desafiando eles. Era isso, uma guerrilha urbana.”
Ney Matogrosso respondendo como era a sexualidade na época do Secos & Molhados em entrevista para a Folha de São Paulo
“Todas as músicas que estão no CD têm a ver comigo. Tem momentos em que eu pego as meninas, momentos em que eu namoro, momentos em que eu durmo de conchinha. Minha vida está ali [no disco]. O que eu faço da música se não me expressar? Eu viro um produto. Se for pra virar um produto, eu monto uma empresa”, rebateu. “Tendo verdade na música, podem me xingar ou me parabenizar. Tudo bem se alguém não gostar, pelo menos eu fiz de verdade. Eu prefiro não optar por esse caminho plástico esquisito. Ou eu virava um produto enlatado, ou eu me arriscava.”
Fiuk em entrevista ao canal jovem do Ig
“Não aceito o convite, não negocio com vocês, não me procurem mais, esqueçam o meu nome! Ah, vocês patrocinam o apartheid brasileiro. Bando de Racistas!!!!! Tirem o nome de Nelson Mandela dos noticiários sujos de vocês!”
O rapper GOG em seu perfil no Facebook, anunciando a recusa a um convite da Rede Globo para evento em parceria com a FIFA.
“A cena alternativa acabou, é uma coisa minúscula. Só toca sempre nos mesmos lugares, para as mesmas pessoas, ninguém compra os discos, ninguém vai aos shows, é meia dúzia de pessoas que vão.”
O jornalista André Forastieri, em sua participação na mesa sobre Jornalismo Musical na SIM – Semana Internacional de Música de São Paulo.
“Tenho certeza de que muito da grandeza que há nos trabalhos dos novos paulistas vem da convivência com os artistas pernambucanos (Nação Zumbi, China, Mombojó, Karina Buhr etc.) e cearenses (Cidadão Instigado) que vieram morar na cidade na década passada. Eles nos ensinaram muito, nos ajudaram a perder preconceitos musicais, entraram no nosso DNA. É por isso que o lugar para um músico novo estar não é mais o Rio, como era nos tempos da indústria forte, em que se podia encontrar um fodão de gravadora na Pizzaria Guanabara e a vida estava andada. Isso acabou. O lugar fomentador de música, ao menos nesses últimos anos, é São Paulo. Aqui, mesmo o que é feito à margem da indústria (ou do que restou dela) tem melhores chances de acontecer.”
O jornalista Marcus Preto em entrevista ao site Banda Desenhada
“Nem acho que neoMPB seja um termo muito definidor, mas, pensando agora, gosto mais assim. Porque, desde Los Hermanos, tudo é MPB. Rock é MPB, funk é MPB, música eletrônica é MPB, rap é MPB. E eu gosto muito que esses artistas, tão vigorosos que são, possam quebrar o preconceito que os “defensores” da própria MPB tradicional trouxeram para o rótulo. MPB virou sinônimo de música careta. E não é para ser isso. Esconjuro! MPB é música popular brasileira. É o que são todos esses caras do samba, do rap, do rock, do funk carioca. Do termo “Nova MPB” eu gosto bem menos: tem cara de nome de emissora de rádio.”
O jornalista Marcus Preto em entrevista ao site Banda Desenhada
“É preciso atentar para o fato de que isso não é uma questão específica nem dos artistas novos e nem do, digamos, underground (esse termo envelheceu e faz pouco sentido no nosso contexto, uso ele aqui apenas para ter algo que se oponha a “mainstream”). Os artistas grandes também sofrem com o pouco número de shows. Basta lembrar, por exemplo, que Caetano Veloso ou Rita Lee faziam, há 20 anos, temporadas de quinta a domingo, por dois meses seguidos, em casas de 1500 pessoas. Hoje, fazem duas ou três apresentações em lugares daquele tamanho. No máximo. E talvez não consigam lotar todas elas. O mundo mudou geral. E se tem alguém um pouco mais preparado para lidar com isso é o artista que nasceu nesse mundo mudado. Vamos à luta!”
O jornalista Marcus Preto respondendo sobre a reclamação dos artistas da nova cena pela falta de infraestrutura e de uma agenda de shows mais regular, em entrevista ao site Banda Desenhada
“o primeiro disco da Tulipa Ruiz, o do Criolo e todos os últimos do Romulo Fróes são muito mais relevantes ao Brasil do que “Chico”. E poderia acrescentar mais algumas dezenas nessa lista, como os dois da Karina Buhr, os dois mais recentes da Mallu Magalhães, o do Felipe Cordeiro, qualquer um do Marcelo Camelo, os dois do Rodrigo Campos, todos os do Passo Torto e do Metá Metá, o segundo da Trupe Chá de Boldo, os de estreia do Silva e do Terno, o do Domenico Lancelotti, o da Gaby Amarantos. Muitos. E isso não coloca nenhum desses novos nomes contra Chico Buarque. Chico é um dos caras que, dada a grandeza da obra e o momento histórico em que ela foi erguida, age em qualquer artista que veio depois dele. Está na essência de todos esses caras que eu citei, e na minha, e na sua. É, ainda hoje, um dos maiores compositores do mundo. Mas o disco dele, apesar de ter grandes composições, não tem nenhum lampejo de atualização sonora. É a mesma banda de sempre, são os mesmos timbres, os mesmos procedimentos de execução e gravação. As composições de Chico Buarque caminham, mas o som dele não vai para lugar nenhum há décadas. Resumindo, Chico Buarque é incomparavelmente maior e mais exuberante do que “Chico”. Alguém duvida disso?”
O jornalista Marcus Preto em entrevista ao site Banda Desenhada
“Não dá pra essas moças, perdidinhas da silva, acharem que é só juntar no disco músicas “de um bom gosto acima de qualquer suspeita” que a integridade artística delas estará salva. Não! É estúpido! Tributo a Noel, a Vinicius, a Chico, a Caymmi, a Jobim? Nada disso pode mais. Essas músicas não precisam ser “resgatadas” porque elas estão aí. A não ser que a fulana perverta aquilo, traga novos significados, conteúdos que as gravações anteriores ainda não deram conta de revelar. Aí, tudo vale a pena. Mas regravar “Águas de Março” só porque acha a própria voz bonita? Isso é vaidade rasa! Essa gente usa um rótulo falso de “respeito pela nossa tradição” pra tentar disfarçar a própria incompetência pra entender e transformar as coisas. São incapazes de atingir a essência das obras de caras como Jobim, Noel e Caymmi pra de fato intervir nelas. Então, trabalham na superfície, tentando “imitar” o que, para eles, parecem ser Jobim, Noel e Caymmi. E isso é sempre menos do que eles são.”
O jornalista Marcus Preto em entrevista ao site Banda Desenhada
“Existe de tudo, até gente que acha tudo muito fofo, muito amor. Mas hoje as duas pontas – artista e jornalista – estão mesmo mais próximas do que eram no passado. Com a redução das equipes nas redações, o mesmo repórter que entrevista o artista, que vasculha a cena, que frequenta audições e saraus (sim, eles existem!) acaba tendo que escrever críticas (isso ainda existe?) dos discos de caras que ele encontra pelo menos uma vez por semana. Isso é um problema? Pode ser e pode não ser, existe de tudo. O que não pode existir é jornalista de música que não sai a campo, que fica na redação esperando a assessoria de imprensa enviar o disco do artista. Ou assistindo pelo YouTube a música acontecer lá fora. Não pode! Nesses nossos tempos, as éticas têm de ser menos genéricas, cada um tem de cuidar da sua. Pra mim, é simples: eu preciso me manter fiel ao leitor e à música, sobre todas as coisas. E jamais enganar, nem um e nem outro, inventando polêmicas. Isso é o mesmo que inventar notícia. É desonesto. O jornalismo que eu faço pretende (e “pretende” é a palavra exata, já que nem sempre ele consegue) fazer uma ponte entre o leitor e a música. Esses dois são os personagens principais do meu texto. E tem mais: não tenho nenhum interesse em me transformar na Madonna, nem quero colocar o leitor e a música na posição de meros espectadores das minhas gracinhas, dos meus malabarismos, da minha “metralhadora giratória”, da minha “personalidade intempestiva”. Essa escola do “jornalismo clown” datou. Não me interessa.”
O jornalista Marcus Preto em entrevista ao site Banda Desenhada
“Acho que há uma tendência, infelizmente, nesse momento, de garotas que tentam desesperadamente ser provocativas ou desesperadamente “começar um debate” sobre algo que já passou ou outra coisa. Porque, sério, elas não são muito boas. Entende? Acontece na Inglaterra com regularidade, e também nos Estados Unidos. Me sinto mal por elas. Tipo: “Escreva uma boa música. Não faça um vídeo provocativo – escreva uma música boa, porra. Vai ser melhor pra você, acho”. Ela esteve recentemente na TV, a Miley Ray Cyrus, e pensei: “Pra que essa porra?”. Eu não sei. É uma pena, porque deixa as outras artistas mulheres para trás em uns cinco anos. Agora, Adele e Emeli Sandé – esse tipo de música, para mim, é para vovós, mas pelo menos tem alguma credibilidade.”
Noel Gallagher respondendo sobre o que acha de Miley Cyrus em entrevista a versão americana da revista Rolling Stone
“É simplesmente embaraçoso. Seja boa. Não seja escandalosa. Qualquer um pode ser escandaloso, ultrajante. Eu poderia ir ao escritório da Rolling Stone e simplesmente cagar em cima de um ovo cozido, certo? E as pessoas diriam: “Nossa, caramba, isso é ultrajante!” Mas isso é bom? Não, porque, essencialmente, é apenas merda em cima de um ovo cozido. É isso que é. Se eu fosse ao escritório da revista e tocasse uma música que acabei de escrever, e ela fosse maravilhosa, seria melhor, não seria?”
Noel Gallagher ainda respondendo sobre o que acha de Miley Cyrus em entrevista a versão americana da revista Rolling Stone
“Senti que poderia finalmente ser a vagabunda que realmente sou.”
Miley Cyrus falando sobre sua apresentação no MTV Video Music Awards ao lado do cantor Robin Thicke no documentário “Miley: The Movement”.
“Só na música que existe um preconceito ridículo de “estarem invadindo”. A música é nossa maior manifestação artística, tem que ser a grande esponja da nossa cultura, para poder absorver tudo o que vem e transformar. Nós temos essa capacidade transformadora. Tem que preservar o samba, o pagode, o frevo, o rancho… Claro, não tem a menor dúvida disso! Mas tem que ouvir o Haendel, o Villa Lobos, o Debussy, e tem que ouvir o Tom Jobim, o Ivan Lins, o Gilberto Gil. Não pode ter essa maluquice desse preconceito.”
Bernardo Vilhena em entrevista ao site Scream & Yell
“Se há algum problema, esse problema está muito mais nas rádios e na TV do que na música. A música continua sendo produzida da mesma forma, como sempre foi. É preciso se preocupar com a maneira como as rádios e as TVs são administradas. É claro que existe um interesse de inserção social de uma camada da população que jamais teve acesso a porra nenhuma. É preciso abrir acesso a essas pessoas. Mas, por outro lado, é preciso ter a responsabilidade de reivindicar e mostrar, para essas pessoas, uma cultura musical brasileira que precisa ser conhecida. Não faz sentido tratar o músico como um débil mental. A música brasileira é reconhecida internacionalmente por três motivos: pelo ritmo, pela harmonia e pela melodia. O ritmo é o terceiro, é um ritmo nosso. Mas a harmonia vem de um estudo muito sério de música, que vem de vários séculos, em Minas, no Rio e na Bahia, os três lugares onde a música brasileira teve uma formação importante pelo dinheiro que corria. Ali chegaram grandes músicas, ali a coisa aconteceu de uma forma muito rica. O choro, ou o samba da Estácio, são coisas que foram feitas por pessoas que tinham uma formação musical intensa. Foi feito por gente que pensou novas formas de tocar o samba. O Noel Rosa e o Cartola tinham uma formação poética incrível. O Cartola dizia pro Elton Medeiros: “Tem que entrar nas igrejas, tem que ouvir Haendel”. Tem que ouvir Debussy, tem que ouvir Tom Jobim.”
Bernardo Vilhena em entrevista ao site Scream & Yell
“As gravadoras não têm mais a força que tem. Quem tem a força são as rádios e as TVs. Não vem falar mal de artista, os meninos estão fazendo o que sabem. Tem que cobrar as TVs, as rádios, e tem que mostrar as referências. (…)
Bernardo Vilhena falando sobre o atual momento da música brasileira em entrevista ao site Scream & Yell
“É complexo dizer, porque não há só um tipo de música tocando. Isso que o Bernardo falou, de jabá, não existe mais. Não existe dinheiro para pagar jabá. Ele está meio atrasado com esse negócio. Isso acontecia na época que as gravadoras ganhavam bilhões. Agora, o que aconteceu com a música? Ainda tem músicas de bossa nova tocando na rádio, o que é uma coisa legal. As músicas românticas tocam na rádio, porque também é legal. O que a gente tem que refletir sobre é a música que mais faz sucesso atualmente, que é o funk, e essas músicas que não tem texto, é só o cara falando… realmente, nesse aspecto, a qualidade caiu muito, deixa muito a desejar. Há muita música primária, parecem letras escritas por analfabetos. A cultura caiu muito, a educação caiu muito. Você quase não vê mais cortesia, gentileza, e isso se reflete na criação artística. A criação artística não é uma coisa etérea, ela se reflete no dia-a-dia. Não tem jeito: as músicas analfabéticas que fazem sucesso hoje se refletem na rádio. Se a educação melhorar no nosso país, a arte melhora, porque o público vai pressionar isso para cima. Se não, as coisas vão continuar do mesmo jeito, até vai piorar.”
Paulo Sérgio Valle falando sobre o atual momento da música brasileira em entrevista ao site Scream & Yell