Dando prosseguimento ao balanço de 2012, vamos relembrar os destaques, entre os discos tributos, lançados no ano passado. Com as facilidades de gravação e distribuição na internet, projetos de tributos a artistas têm crescido. No ano de 2012, muitos blogs, sites, revistas, gravadoras, selos e artistas resolveram prestar tributo a alguns dos nomes mais importantes da música brasileira e mundial. Num ano de muitas datas comemorativas, nomes como Luiz Gonzaga e Caetano Veloso foram destaques, mas teve também alguns mais inusitados ou menos óbvios, como o tributo ao Raça Negra e a Péricles Cavalcanti ou ao Fleetwood Mac.
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Destaques de 2012 – As versões do ano.
Os discos e músicas brasileiros destaque de 2012
Entre discos de artistas se dedicando a obra de outros merecem menção o bom ‘Tudo Esclarecido’, com Zélia Duncan reinterpretando composições de Itamar Assumpção. O disco, que conta com produção de Kassin, participações de Ney Matogrosso e Martinho da Vila, e um time de músicos nota 10, com Marcelo Jeneci, Pedro Sá, Stephane Sanjuan, Thiago Silva e Christiaan Oyens, traz seis canções inéditas e sete reinterpretações menos conhecidas do compositor paulista.
Outro álbum interessante lançado em 2012 foi ‘Flor Bailarina’ de Jussara Silveira, que regrava diversos compositores angolanos e apresenta um universo pouco conhecido dos brasileiros, apesar da enorme proximidade afetiva entre Brasil e Angola.
Uma proposta um pouco diferente foi ‘Ultraje a Rigor vs Raimundos’, que juntou as duas bandas do título com uma fazendo versões de músicas da outra. O disco reuniu sete músicas para cada lado, com cada um dando sua própria cara em versões quase sempre bastante diferente das originais. Destaque para a ótima versão de “Selim”, com o Ultraje.
No entanto, o grande destaque de 2012 entre os discos com artistas homenageando outros, foi a estreia do projeto de integrantes da Nação Zumbi tocando música de Jorge Ben, o Los Sebosos Postizos. A banda, formada por Lúcio Maia (guitarra), Pupilo (percussão e bateria), Dengue (baixo) e Jorge Du Peixe (vocais), conseguiu pegar sucessos e recriá-los, e trazer a tona músicas mais obscuras da carreira do mestre Babulina. Apesar de bastante regravado, poucas vezes a obra de Jorge Ben, aqui com foco nos discos dos anos 60 e 70, foi tão bem servida de versões, com um resultado coeso, mantendo a atmosfera e o poder das canções originais e, ao mesmo tempo, dando uma roupagem nova e interessante.
Internacionais – Grandes cantoras internacionais também dedicaram o ano de 2012 para lançar disco de versões. Norah Jones assumiu já no título a ideia do trabalho. A coletânea ‘Covers’ foi lançada inicialmente apenas no iTunes, mas ganhou CD físico neste começo de 2o13. A compilação reúne gravações de Norah de diversos períodos com músicas do folk, country, rock e jazz norte-americanos. A seleção vai de Bob Dylan (“I’ll be your baby tonite”) a Wilco (“Jesus, etc.”), passando por Johnny Cash (“Cry! Cry! Cry!”), Tom Waits (“Picture in a frame”) e Willie Nelson (“Hands on the wheel”), entre outros.
Já Macy Gray não lançou apenas um, mas dois discos de versões em 2012. O primeiro, ‘Covered’, traz canções de artistas de rock, pop, rap, e indie. Entre elas estão versões inesperadas para uma cantora como Gray, como “Teenagers”, do My Chemical Romance; e “Nothing Else Matters”, do Metallica. Traz ainda “Creep”, do Radiohead; “Here Comes the Rain Again”, do Eurythmics; “Maps”, do Yeah Yeah Yeahs; e “”Wake Up”, do Arcade Fire. Já o outro é focado em um álbum clássico de Stevie Wonder, o antológico ‘Talking Book’, de 1972. Gray dá sua própria visão de um dos discos mais importantes da soul music, regrava-o integralmente na mesma ordem que o original e consegue manter o bom nível.
Tributos de 2012
Foram vários tributos no formato coletânea, com artistas homenageando uns aos outros, lançados em 2012. Entre os menos cotados, está o tributo ao Los Hermanos, organizado pelo site Musicoteca. A ideia foi boa, o repertório muito bom, mas talvez por ser uma influência recente, ou por boa parte dos convidados ser formada por artistas muito novos, o resultado ficou sem criatividade e com poucas novidades. Com distribuição gratuita online, a coletânea ‘Re-Trato’ contou com 33 artistas em versões inéditas. O mesmo vale para a coletânea ‘Brasileiros’, na qual artistas e bandas da nova geração fazem versões de clássicos da música brasileiras. Há até boas versões, mas, em geral, não passam de tentativas.
Mesmo com um time de grandes nomes da MPB, o tributo ‘A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes’ que, como o nome revela, traz cantoras cantando os sucessos de Guilherme Arantes, também não ultrapassou o campo das boas ideias. Mais caretas do que os citados anteriormente, esse disco só faz relembrar os hits do cantor e compositor paulista e apresentar algumas músicas dele que andavam esquecidas.
No centenário do grande Luiz Gonzaga, o pernambucano ganhou vários lançamentos. O principal deles sem dúvida foi ‘100 Anos de Gonzagão’, um tributo clássico, mas muito mais amplo do que o costume. São 50 faixas divididas em um disco triplo, com participação de 50 artistas de várias gerações. Estão lá nomes contemporâneos, que haviam gravado ou pertenciam ao ambiente do velho Lua, como Dominguinhos, Anastacia, Elba Ramalho, Amelinha e Zé Ramalho. Nomes de gerações mais recentes, como Vanguart, Filipe Catto, Karina Buhr, Thaís Gulin, Gaby Amarantos, China e Márcia Castro. Além de nomes como Wanderléa, Zeca Baleiro, Fafá de Belém, Chico César, Maria Alcina, Forró in the Dark, Ednardo, Angela RoRo e até Elke Maravilha.
O disco traz os célebres ritmos nordestinos, marcas de Gonzaga, mas também, versões de alguns de seus fados, marchas carnavalescas, mazurcas e outros gêneros. Traz também uma mesclas dos maiores sucessos com músicas mais desconhecidas. Destaque para versões que dão um novo ar a clássicos, como Gaby Amarantos, que transforma “Cintura Fina” num technobrega, ou Vanguart que dá novos ares a “Assum Preto”, ou ainda Edy Star que faz um pot pourrit roqueiro e divertido com “Dezessete e Setecentos/ Calango da Lacraia/ O Torrado”. Outros que deram uma boa valorizada na música de Gonzação foram Silvia Machete, Forró in the Dark, Marcia Castro, Amelinha, Milena, Ela e Maria Alcina que, com suas visões pessoais das músicas, cada um a seu modo, mantiveram presentes características distintas do Velho Lua.
Entre os outros trabalhos em homenagem a Gonzagão, também foram lançados, em 2012, a coletânea ‘Olha pro céu – Vários Artistas’, reunindo 28 músicas gravadas por diversos intérpretes em diferentes anos, o CD ‘Baião de Dois’, com duetos virtuais do Rei do Baião com 12 cantores, viabilizados por conta da tecnologia digital, além de um CD -tributo da banda Falamansa.
Raça Negra, Los Hermanos e Caetano
Entre os tributos lançados em 2012, o mais inusitados e improvável foi o ‘Jeito Felindie’, que reuniu bandas da safra indie atual para criar versões para a banda de pagode romântico Raça Negra. Se é surpreendente a própria ideia, pegar sucessos de uma banda popular e transformá-los em versões de estilos improváveis, o resultado saiu melhor que a encomenda, pelo menos em alguns casos que tiveram resultados muito interessantes. Os destaques ficam com a banda Amplexos, que transforma o hit “Quando Te Encontrei” numa versão pop deliciosa, a cantora Lulina, que fez de “Cigana” uma balada a la Jovem Guarda, enquanto Nevilton se apoderou de “Vida Cigana” e fez parecer uma música da própria banda de tão boa que ficou.
Mais inspirado é o ‘Tribute to Caetano Veloso’, que reuniu grandes nomes da música pop nacional e internacional. Destaque para Momo com “Alguém Cantando”; Tulipa, com uma ótima versão de “Da Maior Importância”, que ela já cantava nos shows; Céu com uma versão mais moderna mas sem mexer muito de “Eclipse Oculto”; Chrissie Hynde com Moreno, Kassin e Domenico numa bela interpretação de “The Empty Boat”; e Marcelo Camelo, que escolheu fazer uma versão da bela “De Manhã”, gravada originalmente por Maria Bethânia, em 1965. As músicas foram tiradas de vários discos de Caetano de diversas fases de sua carreira, mas está focado principalmente na produção dos anos 70.
Talvez, no entanto, o melhor deste tributos tenha sido o ‘Mulheres de Péricles’. Primeiro, pela ideia de trazer à tona a obra de Péricles Cavalcanti, um grande compositor que nem todos conhecem, mas já foi gravado por gente como Caetano Veloso, Gal Costa, Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes, Cássia Eller, Lulu Santos, Arrigo Barnabé, Fafá de Belém, entre outros. Segundo, porque a proposta de reunir algumas das principais novas cantoras do país do eixo Rio-São Paulo para interpretar suas músicas foi um achado. São as vozes femininas que sempre deram ótimas interpretações das músicas de Péricles e esse tributo só confirma que elas sabem muito bem dar o tom que o universo das canções dele pede. A produção é caprichada e reuniu nomes como Tulipa, Ava Roha, Tiê, Blubell, Bárbara Eugênia, Anelis Assumpção, entre outras. Os destaques, porém, ficaram para a versão de Céu para “Blues”; Karina Buhr peitando a interpretação antológica de Gal e conseguindo fazer uma boa versão de “Negro Amor”; Mallu Magalhães dando sua visão particular para a deliciosa “Elegia”, gravada originalmente por Caetano, além das versões de Nina Becker, Marietta Vital e Mairah Rocha e Iara Rennó.
Tributos internacionais
No campo internacional, foi um ano sem grandes lançamentos no formato, um deles, o ‘Just Tell Me That You Want Me – A Tribute To Fleetwood Mac’, reuniu nomes como The Kills, Tame Impala, Marianne Faithfull, Best Coast, MGMT, Lee Ranaldo com J Mascis, entre outros para versões da banda Fleetwood Mac. Tem até algumas versões interessantes, mas no todo não agrada muito. Outra homenageada foi Amy Winehouse, que ganhou o ‘Back to Back to Black’ organizado pela revista britânica Q. Com nomes mais desconhecidos, é ainda menos interessante.
E quem menos apostou em nome conhecidos fez o álbum de versões mais interessante de 2012. A compilação ‘Score! 20 Years Of Merge RecordsTHE COVERS!’ traz versões de músicas de artistas da Merge Records. São 20 músicas ,gravadas por artistas que não pertencem ao selo, como The Shins, Mountain Goats, Tracey Thorn e Death Cab For Cutie, que celebram os 20 anos da gravadora. Tem, por exemplo, versão do Arcade Fire, Apples in Stereo entortando o Neutral Milk Hotel, e Ryam Adams tocando Superchunk, banda que mais ganhou versões, quatro no total.
Mas os destaques mesmo são as versões do Les Savy Fav para “Precision Auto”, do próprio Superchunk, que remeteu a Pixies fase Surfer Rosa; Broken Social Scene tocando “Complications”, da banda neo zelandeza The Clean; St. Vincent e The National com “Sleep All Summer” do Crooked Fingers e a banda Quasi tocando “Beautiful Things”, do 3Ds.